Arte, ilusão, animação e animal
Vou falar sobre os elementos de meu trabalho: Importância da animação; semelhanças sensíveis entre humanos e outros animais; e representações de animais "de produção".
Pois é, já que o Julio Boaro pediu, vou contar sobre trabalho a que me referi em meu post de ontem, que apresentei na disciplina de pós-graduação Estética e Rupturas, interunidades da USP, mas coordenada pelo MAC.
Estudei o livro-referência da disciplina, de Ernst Gombrich, Arte e Ilusão: Um estudo da psicologia da representação pictórica. E cheguei a um trabalho dividido em 3 partes:
1 - Importância da animação e cartum para Gombrich.
O autor fala de como Rembrand, por exemplo, evoluiu do mais detalhado para o menos detalhado, de maneira eficiente, e como Töpffer e outros caricaturistas, a partir do século XVII, principalmente, utilizaram como meio de contar histórias; este último falou que um meio tão poderoso deve ser usado para fins educativos e morais, inclusive, pelo bem de nossa sociedade, criticando os que visam a arte pela arte.
A idéia é que por classes de objetos, por configurações gerais, nós conseguimos naturalmente visualizar figuras importantes para nós, humanos, como rostos. Picasso fez isso, utilizando um automóvel de brinquedo no lugar de um rosto. Veja na figura abaixo.
2 - Ligação sensível entre humanos e outros animais.
No livro Arte e Ilusão, Gombrich fala em mais de um capítulo, talvez em 3 deles, sobre "nós", referindo-se aos animais em geral (incluindo a espécie humana). Todos nós entendemos o mundo como relações. De cores, de luzes, de sons...
Citou uma experiência com um pintinho, em que se acostumou o animalzinho a comer de uma tigela clara (apesar de também haver uma outra tigela escura). Depois, ofereceu-se a ele uma outra tigela, ainda mais clara. Ele preferiu esta. Por quê? Ele, assim como humanos, pensam não absolutamente, mas relativamente. Isso também vale para a arte e também para a dor, emoções e sofrimentos.
[Foto: Comunidade do Orkut "Vegetarianos"]
3 - Representações de animais em animações (mais importante)
Gombrich fala como podemos enxergar diferentes figuras de diferentes maneiras. Um exemplo que ele dá, bastante representantivo (mas uma ilusão de óptica) é o mostrado ao lado, do coelho-pato. Experimente encontrar aí o coelho e o pato. Você precisa de um certo tempo para conseguir visualizar o coelho ou o pato. Depende de cada um.
Igualmente, você também pode enxergar um bife ou uma gelatina de diferentes maneiras. Hoje em dia, por exemplo, eu já enxergo como um pedaço de cadáver de vaca ou boi, como é de fato. Apesar de muitos enxergarem como "comida" simplesmente, e não como o animal sensível e comunicativo que ele é (ou era) de fato.
Entre outros motivos, isso se deve pela tradição selvagem que herdamos, sustentada na cultura de massa por animações que mostram um mundo bucólico em que vivem os animais. E não a realidade. Isso é herdado por uma tradição pictórica tradicional, como a pintura de Constable, Park Wivenhoe (1816), abaixo.
Comparei no caso o longa metragem de animação O Galinho Chicken Little (um pintinho, mesmo exemplo que toma Gombrich para falar das sensibilidades de animais como nós) e um trecho do documentário em vídeo A Carne é Fraca.
O trecho selecionado mostra a socióloga Marly Winckler falando desta questão aplicada aos cartuns de embalagens de carne e laticínios, seguindo-se por filmagem de pintinhos selecionados, jogados no lixo e mortos. Veja o tal trecho aqui ou logo abaixo (a partir de 5 minutos e 34 segundos).
[A imagem no alto é do personagem Babar, a que o historiador da arte Gombrich, que estudei, se refere em um dos capítulos.]
Nenhum comentário:
Postar um comentário