segunda-feira, 26 de maio de 2008

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Entenda a diferença entre o abolicionismo da escravidão animal e o bem-estarismo

Esta mensagem foi escrita para o prezado Eduardo Hegenberg, na lista abolicionistas, mas pode ser para você também, caro leitor.

A diferença entre os abolicionistas e os bem-estaristas está neste ponto:

- Os abolicionistas acham que não é correto usar animais como escravos para o que bem entendermos e desrespeitá-los em sua individualidade e interesses; a idéia principal é que animais não são objetos, mercadorias ou propriedades.
- Os bem-estaristas acham que é correto usar animais como escravos, mas para eles durarem mais; e para sua exploração ser mais eficiente, é preciso ter certos cuidados, assim como você precisa fazer manutenção no seu carro de vez em quando.

É entre estas idéias que você precisa se decidir. É como diz Tom Regan: "Não queremos jaulas maiores, queremos jaulas vazias."

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Mas compreendo o que você quer dizer sobre união e isolamento. Eu também já tive esta intenção de que as frentes se unissem, até que pude compreender melhor a falha nesta estratégia. Se abolicionistas aceitam apoiar bem-estaristas, o que vai acontecer? Vão dar a entender que aceitam que animais, se menos mal-tratados, sejam usados como escravos. E não queremos passar esta mensagem de maneira alguma.

Há também o grande problema do tempo, que é precioso e LIMITADO para cada um de nós. Se você tem, em um dia, digamos, 1 hora para agir em defesa dos animais, em que você vai investir? Vai procurar difundir a idéia de que animais deveriam ser menos maltratados ou vai procurar difundir a idéia de que animais não devem ser escravos dos humanos? Ou pode ainda dividir seu tempo, claro. Mas a força da sua mensagem vai também se dispersar.

Outra coisa: não é significativa a redução de "maus tratos" para que isto um esforço válido. Vamos comparar com um escravo humano, há um ou dois séculos. Será que vale a pena ficarmos insistindo em que o senhor dele lhe dê, ao invés de 20 chibatadas, 15 ou 10 chibatadas por dia para trabalhar? Ou é melhor insistirmos que lhe seja concedida liberdade?

É claro que, uma vez que um capanga tenha decidido por espancar ou violar uma mulher, eu vou dizer que o que este capanga está fazendo é errado, mesmo que ele tenha espancado ou a violado apenas uma vez ou várias. Simplesmente ele estará repetindo a coisa errada se fizer de novo. Assim como no caso das chibatadas no escravo, ou estupros em uma vaca, ou aprisionamento de um animal, ou sua escravidão para produzir algum trabalho forçado. É isso que deve ficar claro.

Se uma empresa adotar medidas bem-estaristas, provavelmente ela está fazendo isso para poder aumentar a sua lucratividade. E esta estratégia quem deve aplaudir são os executivos. Não nós. Ela com isso vai ter suas propriedades escravas durando mais e sendo mais produtivas; e terá algum motivo até para aumentar o preço final de seus produtos.

Assim, se os bem-estaristas querem aplaudir estes "avanços", fiquem à vontade. Mas acho melhor dedicar meu tempo para outra coisa.

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Concordo contigo de que também seja necessário pensar em reservas para abrigar os animais livres. Mas algum abolicionista disse que discorda disto? Isto é mais para longo prazo. Simplesmente, antes de pensar em reservas, é preciso convencer as pessoas de que os animais merecem respeito.

Agora, se você fosse um bicho, humano ou não humano, você não iria preferir nada se você não existisse, isto é algo que eu já disse antes. Não é uma idéia razoável? Lembre-se da idéia-chave de Descartes: "Cogito, ergo sum." => "Penso, logo existo." E o contrário também vale: se você não existe, você não tem como pensar.

Mas, uma vez que existimos, com certeza devemos ter o direito de desfrutar de liberdade, integridade física, etc. E é por esta idéia que os abolicionistas lutam. Pelos que já existem e pelos que vão existir.

Quanto aos humanos trabalhadores, você falou bem quando especificou "guardadas as devidas proporções". Mas, para ser mais correto, não dá pra falar em "proporções", quando se compara a situação dos trabalhadores humanos com os outros animais. Pois os outros animais são nossos escravos o tempo todo; nós não somos escravos. Por mais que tenhamos dificuldades no trabalho, e possamos ficar cansados, temos a liberdade de buscar educação, melhorar nossas possibilidades, e mudar de trabalho, inclusive para um com o qual temos mais afinidade; e com o dinheiro de nosso trabalho, temos a liberdade de obter coisas para satisfazer nossos interesses e dos outros.

Para finalizar: não sei de onde você tirou que as vacas vivem essa vida idílica que você mencionou...

Abs,
Maurício Kanno

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Presenciei um assassinato hoje


Hoje, no caminho para o trabalho, ouvi gritos de uma mulher, e uma movimentação de uns homens, um deles com um grande pedaço de madeira na mão. Então apareceu, correndo e desesperado, um pequeno que foi perseguido e chutado pelos sádicos e divertidos marmanjões, provavelmente se achando heróis. Com um chute, foi parar em meio aos veículos na rua; bateu numa moto e também ficou atropelado por carros que passavam.
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Era um rato, um dos seres que o ser humano mais despreza. Foi a primeira vez que pude ver um deles, ainda mais tão de perto. Seus olhos e suas atitudes assemelhavam-se a qualquer cãozinho fugindo, e também a qualquer criança humana fugindo, fragilizada.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Acolhemos os animais que já existem, mas não queremos novos dependentes

Esta é uma resposta que fiz para um colega de lista "abolicionistas", baseado em estudos com Cláudio Godoy no Grupo de Estudos de Direitos Animais e textos de Gary Francione.

"prezado,

todos defendemos a vida dos animais que já existem; o que nao se deve defender é que apareçam novos animais em uma situação dependente e escravizada. estes hipotéticos futuros novos escravizados nao podem ter opiniao a respeito, já que eles nao existem ainda.

a vaca é um exemplo de animal que o ser humano fez eugenia: selecionando artificialmente os melhores espécimes para sua necessidade específica. assim como certos grupos político-militares podem fazer com seres humanos: matar alguns e deixar viver outros que lhe sejam de interesse. havia ancestrais da vaca e boi que viviam muito bem adaptados à vida selvagem.

resumindo: a domesticação (dependência e escravismo) é um problema criado pelo ser humano, e os seres humanos devem resolver esse problema, acolhendo os animais que já existem, mas impedindo que novos apareçam.

grande abraço,
maurício kanno"
[Leia mais em http://www.gato-negro.org/content/view/27/48/ ]

===========Escrevi em resposta ao seguinte:

"Gostaria de saber como o abolicionista costuma
se posicionar frente ao seguinte problema:

"O abolicionista, quando defende o direito do animal
de não ser abatido (de viver) em nome da não-exploração,
na prática cria uma situação que fere o seu próprio princípio:
Se não há abate, não há recurso para manter o animal. Logo
não há vida.
Exploração é um conceito humano. Vaca e frango são animais
domesticados há milênios, possivelmente geneticamente menos
preparados para uma vida "selvagem". Se o animal pudesse
saber que existem pessoas -- os abolicionistas, em oposição aos
bem-estaristas -- que decidiram por ele a preferência de não existir a
viver uma vida de bem-estar (no entanto "explorada"), será que
ele concordaria com eles?"

[]s
Edu" [Eduardo Hegenberg]