quinta-feira, 24 de junho de 2010

Belas lendas brasileiras por Clarice Lispector

Ouvi maravilhado o livro infantil "Como Nascem as Estrelas" (1987), em que a escritora brasileira Clarice Lispector narra 12 lendas brasileiras.

Cada um desses 12 contos foi narrado por uma atriz brasileira. Aborda de modo bem bonito histórias de índios, de saci, de curupira, de Pedro Malasartes, de Iara (sereia), de boto, de animais falantes.



Um traço marcante de um livro infantil bem escrito como esse é a constante conversa com o pequeno leitor. Parece uma vovó da roça contando histórias tradicionais.

Há vários toques de informalidade, bate-papo, exageros. Algo como "um bicho bem grandão, viu?", "e olha, não sei se você acredita, mas que é verdade, ah, isso é, sim!"



Um clima de mistério, de valorização da própria narrativa, mas sem ficar se achando.

É claro que as próprias atrizes que narraram as histórias ajudam bastante, de parabéns. Tem várias mais idosas, aparentemente, e umas também mais jovenzinhas. E tudo contado com bastante expressividade.

É do Brasil!

Note-se que o universo das narrativas, apesar de serem brasileiras, é bem diferente do meu, um cidadão urbano de São Paulo, capital.

Afinal, todas elas são ambientadas no interior, na roça, no sertão, na floresta. Então também é legal poder mergulhar nesse lado do país.



E além disso, conhecer ou relembrar todo o misticismo e faz-de-conta que existe no nosso próprio Brasil. Não precisamos ir para o norte da Europa pra curtir as lendas celtas, de fadas e magos. Ou vampiros, elfos, orcs, Tolkien.

É assim muito legal curtir todo esse imaginário de Iara que captura os meninos, de índios que se transformam em animais, da esperteza de um caipira Malazarte, de uma festa de animais competindo pra ver quem é o mais esperto, de um negrinho do pastoreio que apanhava tanto, mas que dava um jeito de voltar ao mundo em estado de graça...

TUdo isso com uma mente aberta pra saborear um jeito infantil de perceber o mundo. Ou ainda pra olhar o nosso Brasil com outros olhos, como fonte de mais imaginação e curtição.

Desafio Literário

Repare que o livro original da Lispector que eu havia escolhido em dezembro de 2009 pra resenhar era "A Paixão Segundo G. H.", indicado por uma seleção literária da revista "Bravo".



Mas, no fim das contas, esse audiolivro infantil acabou me cativando mais e minha resenha foi mesmo pra essa versão em áudio desses contos da nossa grande escritora de origem judia e ucraniana.

Este é mais uma resenha motivada pelo Desafio Literário 2010, organizado pela Vivi, do blog Romance Gracinha.

Devo muito a essa iniciativa, por me inspirar a retomar a leitura de livros de histórias, de literatura de verdade, incluindo dos mais diversos tipos, que eu não leria normalmente.



Assim, li e resenhei de modo a:
- Descobrir os românticos romances de banca;
- Entender como o BBB transformou o ditador assassino de "1984" em diversão;
- Saborear perversão de contos de fadas em "Lost Girls";
- Me decepcionar com o chato argentino e dissertativo Borges, mas me lembrar do divertido peruano Llosa;
- Curtir e me entender com a contemporânea e bem-sucedida "literatura de mulherzinha" ou "chick-lit", com um livro sobre um livro picante.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Bastidores, barulho e imaginário africano na estreia do Brasil na Copa 2010!

Juro que me esforcei pra assistir à Copa do Mundo. Bem, ao menos à estreia do Brasil. À fraca estreia do Brasil. Contra um time café com leite em Copas (2a participação, após 1966), um país de miseráveis com um ditador excêntrico como governante.

Assisti ao vagaroso primeiro tempo, pelo menos (azar), inteiramente. Bom, cultura geral durante o almoço. "Bom que faz companhia pro seu pai", diz minha mãe, liberada do serviço no banco apesar de ter horror a futebol. A mana caçula diz que torceu pros norte-coreanos.

Vuvuzuela

Minha mãe mostrou horror principalmente dos barulhos das cornetas "vuvuzuelas" e coisa que tal, que a TV britânica BBC pensa até em cortar das transmissões. É realmente engraçado ficar ouvindo o barulho desse negócio o tempo todo durante o jogo, um som transmitido como se fosse trilha sonora da partida, huahua.

Parece que a versão para iPod e iPhone está fazendo sucesso também, eheh. (Eu também testei e brinquei com o aplicativo umas vezes durante o jogo, rs, mas seu barulho não chega perto do original, o que fez minha mãe até ficar feliz com o meu.) E eu soube só hoje que isso é um negócio típico da África do Sul.

África

Aliás, se eu vejo algo bom nessa história de Copa do Mundo 2010, é exatamente o lugar: pela primeira vez, na África! Claro, na África do Sul, que é o país com maior chance de alguma estrutura decente no continente. Mas é mesmo ótimo, porque assim o mundo pode ver a África com outros olhos (aliás, até prestar atenção um pouco nela, porque geralmente esse continente é simplesmente um ilustre desconhecido para todos nós, não? ou vc vai dizer que sabe onde fica Gana? Zâmbia? Ruanda?).

Sim, olhar a África com outros olhos. Porque nas raras vezes em que se pensa na África, só lembramos de pobreza, fome, Aids, etc. Aliás, fui buscar uns dias atrás na locadora algum filme pra assistir que não fosse norte-americano, estadunidense. To de saco cheio dessa dominação cultural, e tenho até um projeto pessoal a respeito que vou apresentar em detalhes em breve.

Hotel Ruanda

Bem, o fato é que, buscando algo o mais exótico possível, o melhor que pude encontrar na locadora do bairro foi "Hotel Ruanda", sobre o massacre hutus sobre tutsis no país, e a história dramática de um hotel grã-fino que buscava abrigar perseguidos, já que até os países ricos e ONU largaram mão do lugar (por mais que indivíduos isolados não africanos fizessem o máximo pra ajudar, como da Crz Vermelha e ONU; um jornalista gringo,, que recebeu ordem pra voltar, afirmava-se "envergonhado").

Foi horrível, pesado demais assistir a esse filme (mais duro que mtos filmes de terror). Mas ao menos deu pra sentir um gostinho da África, incluindo nomes de pessoas e umas dancinhas das crianças. E, claro, sua dura realidade. Mas espero achar algum filme mais divertido do lugar ainda. Afinal, o Brasil também não é só dureza, apesar dos filmes daqui que ficam famosos lá fora.

Aliás, parabéns à Folha pela nova seção na primeira página "Boa Notícia", uma ideia que eu já tinha antes desde 2005, mas não coloquei em prática nem por blog.

Sobre o jogo enfim

Pra não dizer que não acabei de falar sobre o jogo de estreia do Brasil, realmente fui azarado em assistir todo o lerdo primeiro tempo e perder boa parte do segundo. Foi divertido o gol "sem querer" que abriu o placar, do Máicon.

O gol do Elano foi bonito, e foi mesmo irônico ele ter sido substituído logo em seguida. Mas meu pai disse que o gol de contra-ataque dos norte-coreanos, que completou 2 a 1 pro Brasil, foi o mais bonito de todos. Pena que perdi justamente esse...