quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Respostas gerais a discursos contra o vegetarianismo

Bom, enfim acabei contando pra turma de quando eu fazia faculdade de Jornalismo que virei vegetariano. E, claro, apareceram várias opiniões. Não tenho como não compartilhar esta discussão no meu blog (só vou preservar suas identidades, vai que eles não querem ser divulgados...):

Uau! Quantos interessados em discutir... Sinceramente, não achava que a turma gostaria de dar sua opinião sobre o assunto...

Bom, vamos lá ver se eu consigo responder alguns comentários:

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Vegano, o vegetariano estrito: por quê?

---Colega 1:

"Voce virou vegan ou vegetariano? Porque, se for vegan, vc nao vai poder comer strogonoff de soja, pois strogonoff leva creme de leite (e, em sua versao mais pobre, so leite). E ovos? Vc come ovos? Os restaurantes vegetarianos indianos nao servem ovos, mas servem leite."

Bom, eu ainda sou simplesmente vegetariano, não vegano. Pra ser mais exato, sou "ovo-lacto-vegetariano", acho que é esse o nome que se dá, porque ainda como ovos e bebo leite, apesar de consumir esses laticínios quase nunca, procuro evitar. Em geral eu consumo laticínios por tabela, em bolos e queijo (em padaria ou lanchonete, normalmente a única opção é algum salgadinho de queijo mesmo).

Mas o estrogofe delicioso que comi em um almoço vegano comunitário (da mesma série daquele que divulguei) realmente era vegano... feito pelo próprio carinha que levou lá. Ele disponibiliza a receita aqui no blog dele: http://sejavegetariano.com.br/blog/?page_id=5

Não sou nenhum ás na cozinha (e acho que nunca serei), mas fazendo uma rápida pesquisa no google, dá pra encontrar outras receitas, também veganas (sem nada de origem animal):



---Ainda Colega 1
: "Pessoalmente, nao vejo muita diferenca entre comer ovo e leite - afinal, em nenhum dos dois vc acaba com a vida de animal algum."

Eu ainda não cheguei a abolir totalmente laticínios de minha vida, nem ovos, como dito; mas não resta dúvida de que não é correto, e cumpre então evitar. Ver texto de Gary Francione, Distinguished Professor de Direito na Universidade de Rutgers, EUA:

"Não há nenhuma diferença significativa entre comer carnes e comer laticínios ou outros produtos animais. Os animais explorados na indústria de laticínios vivem mais tempo do que os que são usados por sua carne, mas são mais maltratados durante suas vidas e acabam indo parar no mesmo matadouro, depois do que consumimos sua carne do mesmo jeito. (...) E qualquer um que pensar que um ovo - mesmo o que vem das chamadas "galinhas soltas" - não é produto de um sofrimento tão horrível quanto a carne não conhece muito bem a indústria de ovos."
Mais informações: www.animal-law.org (no original) ou traduzido no www.gato-negro.org

-------Gado brasileiro e seu impacto ambiental

---Ainda Colega 1: "Quanto aos direitos dos animais, vc nao acha que o gado brasileiro vive bem? O que da pena eh a situacao do gado americano, que fica confinado e todo deformado de tanto hormonio. Ja o gado brasileiro vive feliz, andando pelo cerrado, ate ter uma morte rapida e indolor. Ja o gado dos muculmanos precisam ser abatidos lentamente. (...) depois, precisa ainda deixar o sangue esvaziar ateh o animal morrer de verdade. Enfim, gado brasileiro eh gado feliz... O problema eh o biodiesel, haha. "

-Bom, realmente eu não sei exatamente a situação do gado brasileiro em comparação com outros... Mas verificando nesta reportagem da Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74465-5856,00.html

Podemos ter alguma idéia. "A maior parte do gado brasileiro é criada pelo sistema extensivo, onde os animais permanecem soltos no campo, ocupando vastas áreas" (aí eu lembro que aprendi isso no cursinho). Então nos deparamos com outro problema, de impacto ambiental:
"Neste sistema, considerado pouco produtivo, cada cabeça de gado necessita de um hectare (10.000 m²) de terra para engordar. O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo (mais de 200 milhões de cabeças), que necessita de uma área de pastagem de, no mínimo, 2 milhões de km² para ser sustentado. Esta área equivale a um quarto do território nacional. Estas pastagens eram anteriormente áreas naturais como cerrados, florestas tropicais, entre outros.


Quando ambientes naturais são destruídos para a formação de pastos ocorre a perda de biodiversidade na área: a maior parte dos animais e plantas nativos desaparecem do local, sendo substituídos por forrageiras invasoras e gado. A remoção da cobertura vegetal original transforma completamente o ambiente, tornando-o impróprio para sustentar a maior parte das espécies que antes ali viviam. Ainda, as raras espécies que se adaptam às novas condições tendem a ser eliminadas pelos fazendeiros, uma vez que entram em competição com o gado ou passam a predá-lo devido a ausência de suas presas naturais. Há também várias doenças, como a raiva, o antraz, a toxoplasmose e a febre maculosa, que são transmitidas do gado para os animais silvestres e vice-versa, o que freqüentemente resulta na eliminação dos animais silvestres.


A remoção da cobertura vegetal original para formar pastos não apenas compromete a biodiversidade, como também interrompe o equilíbrio e a reciclagem natural de nutrientes, como o que estamos observando no caso da Floresta Amazônica. Locais no planeta onde a atividade de pastoreio é mais antiga são testemunhas de que o homem de fato transforma florestas em desertos. O super-pastoreamento destrói toda a possibilidade de rebrotamento e crescimento vegetal. Além disso, quando o gado pisoteia massivamente o solo, este é compactado. Isto torna a absorção da água dificultada, além de possibilitar o arraste de material superficial pelo vento e pela água, resultando em processos erosivos."


-Há também um problema de recursos para a população humana, de fome e desperdício de recursos:

Marly Winkler, no livro Vegetarianismo: Elementos para uma conversa sobre, relata (baseada no estudo Our Food Our World, EarthSave Foundation, Santa Cruz):

"Produtos comestíveis que podem ser produzidos em um hectare de terra boa em quilos:
-Feijão 11.200
-Maçã 22.400
-Cenoura 34.900
-Batata 44.800
-Tomate 56.000
-Carne 280"

-Ainda assim, há o problema ético. No livro de Tom Regan, professor emérito da Universidade de Carolina do Norte, Jaulas Vazias, encontramos no prefácio:

"Uma vaca quer viver, amamentar seu bezerro, ficar ao ar livre, num mundo natural com vento, sol e outras coisas naturais. Uma vaca é feliz quando faz o que vacas evoluíram para fazer: ter amigos, família - e uma vida. Não uma morte. É isso o que uma vaca quer fazer; isso é o que a deixa feliz. Quando você se pergunta qual a pior coisa que pode acontecer na vida de qualquer animal, conclui: uma morte prematura. Então a filosofia de Tom nos diz que precisamos fazer tudo que pudermos para garantir que nenhum animal morra, a menos que a morte seja natural ou necessária (...)"

Então você fala: ah, mas é só um animal; ele pode morrer de forma prematura. Bem, primeiro lembre-se de que humanos também somos animais. Então você reformula a pergunta: então tá, ah, é só um animal não humano ; ele pode morrer de maneira prematura.

Pois bem; então pensando racionalmente: qual é a razão para se pensar assim? Por que os não humanos podem morrer de maneira prematura e os humanos não? Digamos, você não deixaria algo assim acontecer com seu irmão ou sua namorada, deixaria?

Hipótese
: Você dirá que é natural, porque a cadeia alimentar é assim? Vamos ver o que diz o filósofo Carlos Naconecy, pesquisador na Universidade de Cambridge, em seu livro Ética & Animais (tem umas 10 páginas de argumentação e contra-argumentação, então vou resumir e e pegar só alguns, quem quiser mais adquira o livro):

Ele lembra o "argumento ecológico" utilizado para negar o vegetarianismo: "Na natureza os mais fracos são eliminados. Um animal não respeita o outro. Pelo contrário, eles se matam. O mundo é constituído de predadores e presas, e nós, como mais um predador, estamos no topo da cadeia alimentar. Sendo o predador mais poderoso, temos o direito de explorar as outras criaturas."

Contra-argumentos
:

-Isso sugere que imitemos a conduta dos outros animais. Na natureza, os animais tomam a comida uns dos outros; então também faremos isso entre humanos? Eles também se matam entre si; também faremos isso entre nós? E completo eu: eles andam por aí sem roupas e fazem sexo à por aí à vontade, sem pudor; também famos imitar?

-É verdade que muitos animais matam uns aos outros; mas ou fazem isso para se alimentar ou para se defender. Não têm opções. Humanos matamos por mera conveniência, por escolha. Lembrar, lá no tempo da Era das Cavernas, o que foi a Revolução Neolítica: o advento da agricultura. Nós, que já passamos desse tempo, vivemos em sociedades agrícolas. Não precisamos mais matar para sobreviver.

-Há muitos animais que não matam uns aos outros, como os herbívoros.


---------Falta de "pena" por animais não humanos?

---Colega 2:
"Colega 1, claro que vc acaba com a vida de um animal comendo ovo. Vidas em potenciais viram ovo mexido, cozinho, pochet,... mas eu não tenho a menor pena, acho aves a coisa mais abominável.

Aliás, eu não tenho pena de animais, especialmente os de criação. Acho que tem que ser comidos mesmo, de preferência bem passados, temperados com sal, azeite e ervas; caso contrário, eles nem existiriam. Só sou contra hormônios... devem fazer mal... pra gente. "

Bem, aqui foi colocado "não ter pena de animais". Isso significa que os animais não humanos não têm direitos ao bem estar, à vida, à mínima consideração, etc. e os humanos têm? Por quê?

Vamos investigar um pouco o passado, com pensamentos de importantes intelectuais na História, com a ajuda do livro Animals and Why They Matter, de Mary Midgley:

"Os problemas da posição das mulheres, dos escravos, de outras raças, e de animais não humanos, mais do que uma lógica similar, têm um histórico bastante similar. O que os une é que quase nunca eles são bem examinados. Os teóricos fogem deles.

No primeiro livro de Aristóteles de sua Política, sua discussão sobre escravos, além de imoral, é confusa e inútil. Escreve como um cidadão ateniense típico de sua época, apenas expressando suas dificuldades e preconceitos claramente, mas sem conceitos mais abstratos que o poderiam ajudar a resolvê-los.
Hume e Kant, da mesma forma, sobre a diferença sexual, apenas repetem clichês. Rousseau descreve as mulheres inicialmente em seu estado de natureza como também desejando viver de maneira independente; mas assim que a sociedade é formada, sua liberdade simplesmente some, sem explicação. A idéia de que "todos (...) alienam sua liberdade apenas para sua própria vantagem" não se aplica a elas. Basicamente a idéia fica como "Mulheres são feitas especialmente para o proveito do homem." Rousseau defende a idéia de opressão feminina com argumentos tolos, como o perigo da traição delas.

(...)

A respeito do colonialismo, é impressionante como frequentemente os imigrantes europeus que iam a locais como América e Austrália desconsideravam as demandas dos habitantes nativos, embora eles mesmos tivessem saído de seus lares originais para escapar das tiranias e desigualdades da Europa, e tinham visões explicitamente opostas a estas. Sua atitude era, na prática, a mesma que um fazendeiro no Brasil deu a um jornalista: "Índios e porcos são a mesma coisa. Se um deles entra no meu caminho, eu não penso duas vezes: eu os mato.

(...)

Para Rousseau, a mulher é uma parte interna da vida de um homem.
"
Sobre este último aspecto, também lembrar do Gênesis na Bíblia.

Argumento do favor

---Repetindo um trecho da fala de Colega 2:

"Acho que tem que ser comidos mesmo, de preferência bem passados, temperados com sal, azeite e ervas; caso contrário, eles nem existiriam."

A este argumento, o filósofo brasileiro Carlos Naconecy chama "o argumento do favor". Vamos ver como ele contra-argumenta:

"De fato, nos sistemas atuais de criação, uma infinidade de animais são trazidos à vida. Eles só existem porque nós decidimos criá-los. Mas a maioria desses animais leva uma vida tão miserável que seria melhor - do ponto de vista dos próprios animais - não terem existido. É melhor não nascer para levar uma vida inteira de miséria, com uma morte prematura no final. Não faz sentido então imaginar que tais animais deveriam ser "gratos" a seus criadores por existirem em condições tão deploráveis."

Ainda: Suponhamos que alguém não visse nada de errado em criar um porco visando exclusivamente matá-lo para depois comê-lo. Pois bem, vamos agora pensar em um casal que decidisse ter um filho, visando depois canibalizá-lo com a idade de 9 meses. Um bebê nessa idade não compreende psicologicamente sua situação melhor do que um porco. Assim, os dois casos seriam equivalentes do ponto de vista da vítima.

Agora vamos pensar em uma civilização perdida que criasse uma raça de humanos (pigmeus albinos, digamos) visando usá-los como escravos. Ora, os nativos também argumentariam que a comunidade de pigmeus nem mesmo existiria se eles não os criassem para a escravidão.


Argumento típico: "tadinhos dos vegetais"!

---Colega 3:

"E ninguem vai defender as verduras? Elas também têm vida e são assassinadas quando arrancadas desde a raiz. Ou mutiladas."

Esse era o argumento que eu utilizava quando ainda não era vegetariano, para negar o vegetarianismo. Mas lembrar antes que não são só verduras que são alimento vegetariano.
Basicamente, a diferença é que as plantas não têm um sistema nervoso desenvolvido como dos animais; e, de todo modo, ao nos alimentarmos de plantas, ao invés de animais, reduzimos a quantidade delas que são mortas. Pois a criação de animais para o consumo humano exige que eles consumam muito mais plantas...

Para detalhes, ver o artigo de Yves Bonnardel:


---Mais Colega 3: "O jeito é virar aquelas pessoas que só comem as frutas que caem no chão. Esses não têm como sofrer da consciência."

Não necessariamente. Ao comer cereais ou frutas em geral (o que já é boa parte da dieta vegetariana, apesar de também haver legumes e verduras, etc.) não estamos causando mortes em absoluto, nem de vidas vegetais. Mas, para quem não quer ser um crudívoro (acho que é esse o nome, apesar de eu nunca ter conhecido nenhum), também há a opção intermediária de vegetarianismo, que já causa bem menos impactos que ser onívoro.

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Ufa! Mais, só na semana que vem... Espero que tenha contribuído de alguma maneira... Senão, de todo modo vai pro meu mestrado...

Bem, aguardo as respostas, se houver interesse, estou sempre à disposição.

Abraço,
Maurício Kanno

domingo, 26 de agosto de 2007

A exploração injustificada das espécies (post 150)

Olá, neste post número 150, vou apenas fazer alguns questionamentos:

Qual é a grande diferença que existe entre os humanos e uma vaca ou um boi? E a diferença que existe entre nós e um cachorro ou um gato? Parece ser semelhante, não? Por que então a sociedade brasileira acha normal matar uma vaca ou boi, e os chineses acham normal matar um cachorro ou gato? Ou seja, não há diferenças “naturais” que justifiquem esse comportamento.

Qual é a grande diferença entre uma galinha, um peru, e um humano, que não há entre nós e um periquito, um canário? Por que nos permitimos comer um e amar o outro? Apenas pensamos de maneira utilitarista? O periquito e o canário só sobrevivem porque cantam (de tristeza)? Por que alguns peixes os humanos comem, e outros cuidam em um aquário? Por que alguns merecem a morte, e outros a prisão? Esse tipo de diferenças que os humanos fazem com as diferentes espécies animais é a mesma diferenciação que se costumava fazer (ou ainda se costuma) entre diferentes ditas "raças" humanas, ou nacionalidades, ou classes sociais... Sempre uma exploração, violenta; abuso de poder.

A lógica do discurso de que, pela cadeia alimentar, humanos somos superiores aos outros animais é a mesma utilizada para que humanos ricos e privilegiados explorem aos pobres.
Nem adianta também dizer que a razão é que, na Natureza, os animais se comem uns aos outros; não são todos, e eles nem têm a tal auto-consciência de que nos vangloriamos tanto; o ser humano é um ser ético, e precisa se responsabilizar por isso.

Somos seres éticos e racionais, e temos liberdade de escolha entre causar sofrimento a outros seres sencientes ou não; os outros animais não, eles seguem instinto, além de não terem escolhas como ir a um super-mercado e ter uma diversidade de alimentos para selecionar...

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Para quem se interessar em ler mais sobre o assunto, indico os links:

"Por que pautar nossa alimentação pela dor dos animais se eles se devoram sem piedade?"

"Mas na Natureza os animais são carnívoros, matam uns aos outros"

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Faculdade de Medicina do ABC é a primeira no País a proibir experimentação com animais vivos na graduação

Viva! Boa notícia! ABC dando ousados passos éticos na frente das outras faculdades brasileiras! Segue:

"A Faculdade de Medicina da Fundação do ABC proibiu o uso de qualquer animal vivo nas aulas de graduação. Portaria em vigor desde 17 de agosto coloca a instituição como primeira no País a abolir completamente essa prática, que agora fica liberada somente para pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente aprovadas pelo CEEA - Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMABC.

Apesar de comum em faculdades e universidades com graduações em saúde, a experimentação animal é proibida por lei “sempre que existirem recursos alternativos”. Nos Estados Unidos, instituições de renome como Harvard, Yale, Stanford e Mayo Medical School há tempos não utilizam animais no ensino médico.

“Existe movimento mundial para substituição do uso de animais na graduação por outros modelos. Atendemos solicitações de diversos docentes e alunos e resolvemos tentar, para posteriormente termos opinião definitiva. Quanto à pesquisa, as práticas continuam inalteradas. Nesse caso, até que se prove o contrário, o modelo animal é insubstituível”, explica o Diretor da Faculdade de Medicina do ABC, Dr. Luiz Henrique Paschoal.

A substituição de animais por métodos alternativos chega a 71% em instituições de ensino superior da Itália. Além disso, 68% das escolas médicas norte-americanas não usam animais em cursos de farmacologia, fisiologia ou cirurgia. “Usar animais vivos é prática cruel e desestimula o aluno. O estudante de graduação aprende e incorpora informações sem necessidade de subjugar outro ser vivo”, acrescenta a professora da FMABC e membro do CEEA, Dra. Odete Miranda.

As alternativas para substituição de animais vivos vão desde softwares (programas de computador) e bonecos até auto-experimentação, uso de animais quimicamente preservados e incorporação dos cursos básicos à prática clínica – quando o aluno passa a aprender com casos reais, em seres humanos.

“Nossa missão é formar médicos humanos, mais envolvidos com o paciente e sensíveis à dor do próximo. Evitar que o aluno seja coadjuvante da morte ou do sofrimento de animais melhora o aprendizado, pois elimina o estresse do sentimento de culpa, além de incentivar a valorização e o respeito por toda forma de vida. Isso certamente será refletido na relação médico/paciente após a formação acadêmica”, completa Dra. Nédia Maria Hallage, professora da FMABC e membro do Comitê de Ética em Experimentação Animal.

Para a Dra. Odete Miranda, a continuidade da experimentação animal no País tem como principais motivos tradição e resistência a mudanças, desconhecimento de métodos substitutivos e atraso tecnológico: “O Brasil está quase dois séculos atrás de países europeus e dos Estados Unidos”, garante.

Em relação à economia, a Dra. Nédia Maria Hallage considera mito achar mais barato a morte de animais: “É comum pensar que matar animais sai mais barato que investir em tecnologia alternativa. Para utilizar animais no ensino é necessária manutenção ética, que implica em alimentação digna, funcionários habilitados, controle de zoonoses e estrutura própria no biotério para cada espécie. No caso do investimento em bonecos ou softwares, são todas técnicas duráveis, que abrangem maior número de alunos e que substituem animais em diversos temas de aulas”, completa Dra. Nédia.

Informações à Imprensa com Eduardo Nascimento
MP & Rossi Comunicações
(11) 4992-6379 / 8163-5265
www.mprossi.com.br

(Foto: Diretor e Vice-diretora da FMABC, Dr. Luiz Henrique Paschoal e Dra. Maria Alice Tavares, com "Sorriso" - o cachorro mascote da Faculdade.)"

[Fonte intermediária: DeolinDA www.gatoverde.com.br em Defesa dos Direitos Animais, por meio da lista veg-brasil@yahoogrupos.com.br ]

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Imagem dos defensores dos direitos animais e o livro do professor Tom Regan

Tenho percebido que a imagem que algumas pessoas (ou várias) têm a respeito dos defensores dos direitos animais, como os vegetarianos, é um tanto negativa além da medida. Por isso, vou reproduzir a seguir alguns trechos do livro que estou lendo, do professor emérito em Filosofia Tom Regan: Jaulas Vazias – encarando o desafio dos direitos animais (2006, Editora Lugano).

Nos capítulos que selecionei, o autor fala sobre como os defensores dos direitos animais têm sua imagem bastante distorcida e prejudicada pela grande mídia, influenciada pelas influentes e ricas indústrias que exploram as vidas dos animais não humanos. Assim, também existe o problema de se pensar nos defensores dos direitos animais com alguns estereótipos, como terroristas, negativos e arrogantes. Basicamente o problema é de generalização e interesses financeiros de empresas influentes.

Os trechos selecionados a seguir são cruciais para se esclarecer essas questões.

(Sobre o autor: Tom Regan publicou centenas de ensaios profissionais e mais de 20 livros; ao se aposentar, em 2001, recebeu a medalha William Quarles Holliday, a maior honra que a Universidade do Estado da Carolina do Norte pode conferir a um membro de seu professorado.
Para saber mais sobre a carreira dele, veja o arquivo de Direitos Animais Tom Regan, instalado pela Biblioteca de sua universidade: http://www.lib.ncsu.edu/animalrights/ Contato com ele: http://tomregan-animalrights.com/contact.html .)

A inverdade dos rótulos (p. 12-13)

“Os opositores acham que direitos animais é uma idéia radical ou extrema, e não raramente rotulam os defensores dos direitos animais de “extremistas”. É importante entender de que forma esse rótulo é usado como instrumento retórico para evitar a discussão informada e justa; do contrário, aumentam as chances de não termos uma discussão com esses atributos.

“Extremistas” e “extremismo” são palavras ambíguas. Em um sentido, extremistas são pessoas que fazem qualquer coisa para atingir seus objetivos. Os terroristas que destruíram as torres gêmeas do World Trade Center eram extremistas nesse sentido; estavam determinados a fazer de tudo para conquistarem seus fins, mesmo que isso significasse matar milhares de seres humanos inocentes.

Os defensores dos direitos animais (DDAs ou ativistas) não são extremistas nesse sentido. Vou repetir: os DDAs não são extremistas nesse sentido. Mesmo os mais combativos defensores dos direitos animais (os membros da Frente de Libertação Animal, digamos) acreditam que haja limites morais absolutos para o que pode ser feito em nome da libertação animal: certos atos nunca devem ser cometidos, de tão ruins que são. Por exemplo, a Frente se opõe a ferir ou matar seres humanos.

Em outro sentido, a palavra extremista se refere à natureza incondicional daquilo em que as pessoas acreditam. Neste sentido, os defensores dos direitos animais são extremistas. De novo, deixe-me repetir: os DDAs realmente são extremistas, neste sentido. Eles realmente acreditam que é errado treinar animais selvagens a representar atos para o entretenimento humano, por exemplo. Mas, neste sentido, todo mundo é extremista. Por quê? Porque há algumas coisas às quais todos nós (espero) nos opomos sem restrições.

Por exemplo, todos os que estão lendo estas palavras são extremistas, quando se trata de estupro; somos contra o estupro o tempo todo. Cada um de nós é um extremista quando se trata de abuso infantil; somos contra o abuso infantil o tempo todo. De fato, todos nós somos extremistas quando se trata de crueldade com os animais; nunca somos a favor disso.

A verdade pura e simples é que pontos de vista extremos são, às vezes, pontos de vista corretos. Assim, o fato de nós sermos extremistas, no sentido de termos crenças incondicionais a respeito do que seja certo ou errado, não oferece, por si só, razão para se pensar que estejamos errados. Então a questão a ser examinada não é: “Os DDAs são extremistas?” A questão é: “Eles estão certos?” Como veremos, esta pergunta quase nunca é feita, e, menos ainda, respondida adequadamente. Uma conspiração entre a mídia e alguns fortes interesses se encarrega disso.”

A mídia (p. 13-14)

“Como a mídia procura o que é sensacional, pode-se contar com ela para cobrir direitos animais quando alguma coisa bizarra ou fora-da-lei acontece. Membros da Frente de Libertação Animal (ALF, na sigla em inglês) explodem uma bomba num laboratório. Um ativista contra o uso de peles atira uma torta na cara de Calvin Klein. Este é o tipo de matéria que a gente costuma ver ou ler.

E quanto ao protesto pacífico de ontem, do lado de fora de uma loja de peles, ou à palestra sobre direitos animais na faculdade de Direito na noite passada? Isso raramente é noticiado. Notícias que não sejam sensacionalistas não “sangram” suficientemente para o gosto da mídia. Não admira que o público em geral veja os defensores dos direitos animais como um mero bando de palhaços e de desajustados sociais. Quase sempre, essa é a única mensagem que passa pelos filtros da mídia.”

A política de interesses específicos (p. 14-17)

“O fato de o público em geral tender a fazer uma imagem negativa dos ativistas dos direitos animais não resulta apenas do apetite da mídia pelo sensacionalismo; deve-se também ao material de que a mídia se alimenta, fornecido pelos relações-públicas das grandes indústrias de exploração animal. Por “grandes indústrias de exploração animal”, entenda-se: a indústria da carne, a indústria da pele, a indústria de animais para entretenimento e a indústria de pesquisa biomédica, por exemplo. As pessoas que trabalham nessas indústrias falam com uma só voz, contam a mesma história e usam até as mesmas palavras para denegrir seu inimigo comum: os extremistas dos direitos animais.

A origem do capítulo mais recente dessa história, aqui nos Estados Unidos, não é difícil de encontrar. Foi a publicação, em 1989, de um relatório da Associação Médica Americana (AMA) chamado “O Uso de Animais na Pesquisa Biomédica: O Desafio e a Resposta”. Entre as recomendações da AMA: pessoas que acreditam em direitos animais “precisam ser mostradas como (a) responsáveis por atos violentos e ilegais que colocam em perigo a vida e a propriedade, e (b) uma ameaça à liberdade de escolha do povo”.

Os DDAs têm de ser vistos como “radicais”, “militantes” e “terroristas” que se “opõem ao bem-estar humano”. Em contraste, pessoas sãs, sensatas e decentes devem ser mostradas como favoráveis ao bem-estar animal, entendido como o uso humanitário e responsável de animais por humanos e para humanos.

A estratégia da AMA era simples e inspirada. Se a percepção pública do uso de animais em pesquisas pudesse ser estruturada como uma disputa entre, de um lado, ignorantes extremistas, defensores dos direitos animais, que odeiam humanos e têm um apetite insaciável pela violência, e, do outro lado, inteligentes e moderados cidadãos que são os verdadeiros amigos da humanidade e favoráveis ao bem-estar dos animais, então os DDAs seriam repudiados e a ideologia do uso humanitário e responsável haveria de prevalecer.

Desde 1989, uma enxurrada de press releases, memorandos, e-mails, entrevistas coletivas à imprensa e websites condenando os extremistas dos direitos animais e elogiando os sensatos adeptos do bem-estar animal tem jorrado, direto da AMA e de outros escritórios de relações públicas da indústria de pesquisa biomédica, para as mãos de repórteres, diretores de reportagens e editores.

(...)

Funciona? Será que a mídia faz coberturas tendenciosas por causa de esforços como os da FBR [Fundação de Pesquisas Biomédicas, que produziu uma espécie de “cartilha para jornalistas”]? Antes de responder, vamos imaginar um pouco. Temos aqui um enérgico repórter, com seus quarenta e poucos anos, com a sorte de ter um emprego fixo; seu salário, junto com o da esposa, está longe de cobrir todas as suas despesas, agora que seus dois filhos estão matriculados em faculdades de prestígio. Seu campo inclui pesquisa biomédica. Todo mês ele recebe os folhetos com as dicas da FBR. Todo dia ele recebe a mais recente leva de citações autorizadas de “experts” que apóiam pesquisas usando animais. E em momentos oportunos, ele recebe uma lista atualizada das “atividades criminosas cometidas em nome dos 'direitos animais'”.

Então nos perguntamos: quais são as chances de esse repórter fazer uma matéria justa e imparcial sobre “a última descoberta científica usando animais”? Não estariam essas chances um pouquinho mais direcionadas para uma direção do que para outra? Será que deveríamos mencionar que entre os maiores anunciantes do jornal estão grandes indústrias que usam animais, incluindo interesses economicamente fortes (as grandes companhias farmacêuticas, por exemplo) representados pela FBR? Ou que os fundos de pensão do repórter investem pesadamente nessas mesmas indústrias, assim como os de quem publica o jornal e os do pessoal da editoria?”

(...)

“O fato é que muita gente tem uma imagem negativa dos direitos animais porque grande parte da mídia mostra os defensores dos direitos animais sob uma luz desfavorável.”

Muitas mãos em muitos remos











O chega-pra-lá do “anti”
(p. 229)

“(...) os defensores dos direitos animais são vistos, frequentemente, como um bando de gente “anti”: anticarne, antilaticínios, antipeles, anticouro, anticaça, anti-rodeios. Esta lista continua. Isso é um convite para o familiar “Sim, mas...”: “Sim, eu abraçaria a causa dos direitos animais, mas quem quer ficar rodeado de gente tão negativa?”

Eu não peço desculpas em nome dos DDAs. Nós realmente somos contra todas essas (no nosso modo de ver) abominações, e muitas outras. Mas espero que ninguém se esqueça de que há um outro lado naquilo que valorizamos e em que acreditamos: o lado “pró”. Com raras exceções, os defensores dos direitos animais defendem o amor à família e ao país, os direitos humanos e a justiça, a liberdade e a igualdade humanas, a compaixão, a paz e a tolerância, a consideração especial dos que têm necessidades especiais, um ambiente limpo e sustentável, e os direitos dos filhos dos nossos filhos – nossas gerações futuras.”

O chega-pra-lá da certeza exagerada da própria virtude (p. 232-234)

"Alguns relutantes são desencorajados pela certeza exagerada da própria virtude com que se deparam: “Sim, direitos animais é uma nobre idéia”, dizem eles, “mas veja o que essa idéia faz com as pessoas; faz com que elas pensem que são tão boas, tão puras. Quem quer ser assim?”Eu consigo me identificar com essa reação. Conheço alguns defensores dos direitos animais que se acham tão virtuosos que eu até desvio do meu caminho, só para não ter de lidar com eles.

(...) eu conheço alguns desses defensores que querem que você saiba o quanto você é mau e o quanto eles são bons, quando se trata das roupas que vestem e dos sapatos que você calça. Quer dizer, eu conheci alguns que podem soltar fogo pelo nariz na cara das pessoas que não se vestem direito.

Os defensores dos direitos animais que se comportam dessa maneira não vivem no mundo real.”

A idéia é que “os corpos de literalmente bilhões de animais são intencional e deliberadamente feridos a cada ano”, “a liberdade de centenas de milhões de animais é intencional e deliberadamente negada a cada hora” e “a própria vida de dezenas de milhares de animais é intencional e deliberadamente tirada a cada minuto” por causa da indústria das peles, couro ou lã.

Mas veja o algodão, por exemplo. Por causa dos produtos químicos que são aplicados ao algodão, levados pelas águas, matam peixes e outros animais. E ainda outros animais são mortos quando lavradores mecanizados preparam o solo para o plantio.

Quanto aos sapatos e cintos feitos com couro falso (sintético): são sub-produtos da indústria petroquímica. Isso significa derramamento de óleo, e números incontáveis de animais feridos e mortos.

“Portanto, não: os defensores dos direitos animais não têm razão para se considerar perfeitos exemplos de virtude, como se o mundo fosse dividido entre Puros (esses seríamos nós) e Impuros (esses seriam o resto da humanidade). Moralmente, somos todos matizes de cinza. (...) nenhuma pessoa sozinha fala em nome de todos os defensores.”

[Fontes das imagens utilizadas neste post:
http://www.ringue.blogger.com.br/
http://www.naxoscomercial.com.br
www.svb.org.br/livros/trecho-jaulas.htm
www.ul.pt
historianet.com.br/

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Piada de jornalista: "Tom de Everton?"

Puxa vida, esta é realmente uma bela anedota sobre jornalistas... vai virar "piada de jornalista", assim como tem "piada de português"... rsrsrsrs... e olha que eu sou jornalista e tenho algum ancestral português. (Se bem que, de português, que brasileiro não tem um pouco no sangue, afinal foram eles nossos "colonizadores"...?)

Reprodução do blog na Rede Stoa USP, de Tom, como é conhecido Everton Zanella Alvarenga: http://stoa.usp.br/tom/weblog/5728.html

"Uma confusão que fizeram com o nome de um amigo agora, além de minha namorada ter contado a estória para umas amigas dela no fim de semana, me fez lembrar uma confusão que uma jornalista fez no começo do ano com meu nome.

Eu estava voltando para São Paulo da Ilha do Mel, no Paraná, com minha namorada, após ter passado a virada do ano nessa ilha acampando. Tivemos que pegar um ônibus para Curitiba e um outro para São Paulo.

Com as peles douradas e mochilões nas costas, éramos turistas facilmente identificáveis. Enquanto esperávamos o ônibus para a volta, uma repórter da TV Bandeitantes nos parou perguntando se podia fazer umas perguntas para uma matéria para o jornal da Band sobre a volta das férias para o trabalho. Aceitamos.

Ela (infelizmente esqueci o nome) começou a fazer perguntas como para onde tínhamos ido, se foi possível descansar para a volta às nossas atividades, qual minha atividade etc.. A última pergunta foi, 'Como você se chama?' Acabei respondendo apenas meu apelido, explicando a origem, 'Tom, de Everton'.

Após responder todas perguntas, a repórter pediu que eu as repitisse para gravar. Tudo acertado, começou a gravação e a moça:

- "Estamos aqui com Tom de Everton para falar sobre..."

A gravação foi até o fim e ia passar no jornal da Band à noite desse dia. Pena que eu estava no ônibus e não pude gravar."

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Vegetarianismo: proteínas soja/carne e prazer na alimentação

É com muito prazer que recebo o comentário da meteorologista e mestranda em Modelagem Numérica na USP, Samantha Martins. Ela comentou meu post sobre os artistas vegetarianos Leonardo da Vinci e André Matos, no meu blog clone da Rede Stoa USP:

"E olha que eu admiro ambos. Parece que Da Vinci mais uma vez antecipou algo de nossos dias. Se você ler em qualquer revista ou site de celebridades de Hollywood (eita literatura mais útil...rsrs) vai descobrir que muitas "estrelas" também são vegetarianas. Parece que é tendência mesmo.

Eu particularmente sou contra. Não sou nutricionista, mas já li que nosso organismo precisa de proteínas, e que a soja, para suprir a quantidade de proteínas contida num bife, teria que ser consumida em quantidades muito grandes.

Fora que um filé de frango com molho branco é uma delícia...Sorriso"

Resposta

Pois bem, então lá vai minha réplica:

Olá, Samantha!

Que bom que se interessa também por estas personalidades, realmente, também os admiro, mesmo antes de saber que eram vegetarianos!

Concordo com você que um filé de frango é uma delícia. Eu também adorava strogonoff de carne ou de frango. E também atum. E devorava tudo com felicidade, até há uns 5 meses atrás, quando postei em meu blog no blogspot isto aqui: http://blog.kanno.com.br/2007/03/vdeo-realista-e-vegetariano-car

Atualmente, tudo isso para mim lembra morte e tudo pelo que passaram o boi, frango ou peixe. Então, não me é mais agradável nem o cheiro.

Tudo começou quando eu comecei a estranhar meu amigo "esquisito" que não comia carne no bandejão, quando eu ia almoçar ou jantar com ele. Eu sempre acreditei que o nosso organismo realmente necessita de carne. Até pela educação de meus pais, e por tudo o que se diz por aí.

Sabe o que eu dizia para o meu amigo, protestando contra a "absurda" dieta dele, como eu pensava? Exatamente isso o que você me disse agora, o argumento "não dá pra viver sem carne, ou tem que comer vegetais demais pra sobreviver".

Mas depois de tudo o que pesquisei a partir daquele dia, minha consciência mudou bastante, e comecei a retirar a carne de meu prato aos poucos (transição de cerca de um mês, com algum receio, mas firmemente tirando primeiro carne de boi, de frango e então de peixe e camarão, etc.).

Agora, repare no seguinte.

1) Benefício nutricional por quilo da soja versus carne: Onde será que você leu isso? E de que forma estava escrito? Repare no seguinte, em primeiro lugar: há muuuuuitos intere$$e$ ligados à indústria da carne. Compreende? Então, eles espalham de todo jeito esse tipo de "informação".

Segundo (por exemplo) Marly Winkler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira e autora do livro Fundamentos do Vegetarianismo, os pastos, água e cereais utilizados para criar animais para o abate são recursos que seriam bem melhor utilizados se fossem destinados diretamente para a plantação, para alimentos vegetais.

Não tenho o livro comigo aqui, pois está emprestado (infelizmente, porque lá tem a exata informação nutricional que eu precisava, se vc esperar, depois te mando, mas vc deve achar no site da autora; mas felizmente emprestei, assim outra pessoa está se informando). Mas em um folheto do Grupo Veganas, informa-se que: "De um cultivo de 100 m2 de soja, obtém-se 5 kg de proteína, suficientes para alimentar 70 pessoas durante um dia. Se essa mesma quantidade de soja for destinada ao gado, ela se converterá em menos de ½ quilo de carne – o bastante para alimentar de 3 a 4 pessoas num dia. Isso significa que 10 hectares de terra podem alimentar 61 pessoas com vegetais, ou somente 2 pessoas com carne!"

Pelo que tenho pesquisado, realmente é possível viver apenas com alimentação vegetariana (como provam muuuitas pessoas pelo mundo; e em condições até mais saudáveis do que incluindo carne (ver notícia sobre plano de saúde na Inglaterra que dá desconto para vegetarianos: http://www.segs.com.br/index.cfm?fuseaction=ver&cod=57354 ).

E estas informações que tenho visto levam a crer que é mesmo um desperdício de recursos a criação de animais para o abate. Por isso Winkler (por exemplo) defende que o vegetarianismo também é uma questão importante para os direitos humanos, pois assim mais alimentos poderiam ser produzidos com os mesmos recursos.

Verificar também os textos no site da autora, na seção Fome e Vegetarianismo (e outros textos de outras seções que lhe agradem, muitos devidamente amparados com bibliografia acadêmica): http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=category§ionid=14&id=25&Itemid=43

Aliás, sobre a soja, nem são todos os vegetarianos que a comem. Eu mesmo, só de vez em quando. Para resumir, Samantha, a nossa sociedade é uma sociedade do exagero, de tudo, inclusive de comida e proteínas. Vou lhe dizer, parei de comer carne há 5 meses, e realmente não aumentei o tanto de comida que costumo comer (pelo contrário, estou ficando mais satisfeito até com menos) e estou me sentindo bem melhor.

De todo modo, em uma rápida pesquisa no Google, pra suprir minha falta do livro de Marly, encontrei o seguinte, pra lhe ajudar melhor:

http://www.google.com/search?ie=UTF-8&oe=UTF-8&source

"A proteína presente na soja, segundo a professora Jocelem, é considerada a de melhor qualidade entre os vegetais, com muita semelhança às proteínas da carne de origem animal. “A carne de soja pode ser utilizada no preparo de pratos em substituição à carne bovina, uma vez que se assemelha muito na aparência, e quando bem preparada, no sabor. Além do excelente conteúdo de proteínas de alta qualidade, a vantagem de se utilizar a carne de soja em relação às carnes em geral está no alto teor de fibras, na ausência de colesterol, e no baixo conteúdo de gorduras saturadas do alimento. A única desvantagem fica por conta do menor conteúdo de ferro e ausência de vitamina B12, nutriente encontrado somente em alimentos de origem animal”, diz."

http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2006/espaco64fev/a

Quanto ao menor conteúdo de ferro, o nutricionista George Guimarães (na Revista dos Vegetarianos) afirma que não há problemas, pois normalmente se acaba pecando pelo excesso, na dieta comum contemporânea onívora; até porque comemos muito feijão, conhecido como "carne de pobre" no interior, riquíssimo em ferro (carne é só um luxo desnecessário). E vários outros vegetais também o possuem.

Quanto à vitamina B12, ela existe em outros produtos de origem animal sem matança, como leite, queijo e ovos. Eu continuo comendo isso, por exemplo, então não tenho com que me preocupar. Mas conheço alguns veganos (que nem isso comem), que o são há vários anos, e eles não fazem a suplementação de B12, que na verdade é sintetizada por bactérias.

Neste outro site, que fala muito de carnes, tem a quantidade que você falou:

"Quando comparamos 100 gramas de filé mignon grelhado com a mesma quantidade de soja cozida, por exemplo, verificamos que a carne apresenta 42,6% a mais de proteína e 20% a mais de lipídios em relação à leguminosa. Quanto ao colesterol (afinal, o que é colesterol?), o suculento filé bovino representa uma desvantagem: carrega pesadas 103 miligramas, enquanto a soja, por ser um alimento de origem vegetal, é isento do nutriente."

http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2006/espaco64fev/a

Agora, a questão é, nós realmente precisamos de tanta proteína somente pela carne ou soja? Não, porque a proteína aparece não só na carne ou soja, mas também no arroz, feijão e em diversos outros alimentos de origem vegetal, como legumes.

Quanto aos tais lipídios, que obviamente a carne também tem mais, nem precisa falar que não precisamos de muitos deles, certo? Basta olhar a barriguinha da turma...


2) Prazer da comida: Se carne de seres humanos fosse uma delícia, você comeria? Não, porque isso é uma total falta de humanidade. Afinal, há direitos humanos, e você não pode assassinar pessoas por aí pra ficar comendo. Seres que sentem, que têm história, biografia, família, amigos, etc.

Agora, carne de animais em geral as pessoas comem, certo?

Mas os animais também têm biografia, sentem, pensam (ok, nem tão elaboradamente quanto humanos, mas o fazem), têm família, amigos, etc. Então, qual é a diferença? Comecei a perceber que não valia a pena sustentar meu hábito arraigado de comer carne por tanto tempo, e ao mesmo tempo me dizer humanitário e pacifista. Cheguei à conclusão de que as duas coisas realmente não combinam.

Lembrar que, no século XIX, os negros no Brasil também eram considerados "coisas". Hoje, não mais.

Mas não se preocupe, quanto ao "gosto". Afinal, já que costumamos comer muita carne (eu antes), normalmente não buscamos tanta variedade de alimentos vegetais. Então, não costumamos saborear tudo o que eles têm a nos oferecer. Eu, por exemplo, em um dos Almoços Veganos, gratuitos e voltados para a divulgação do vegetarianismo, perto do metrô Santa Cruz (divulgação segue abaixo), acabei conhecendo o delicioso strogonoff de soja!!! sim! é uma delícia! a gente estranha um pouco no começo, mas depois começa a reparar em muita coisa boa! é claro, tem que temperar, etc.... experimenta uma carne crua pra sentir o gosto, eheh!

bem, lá vai a divulgação do próximo
Almoço Vegano Comunitário:

"
... aos novos vegs:

Almoço Vegan Comunitário - free!
Data: 26/08/2007 - domingo, 14 h
Local: Vila Mariana - São Paulo
Entrada: um prato vegan, frutas ou pães
Informações: (11) 8195-4623
e-mail: lauravegan@yahoo.com.br (confirmar presença)

- troca de receitas!
- hamburgers, salgadinhos, bolos, doces! tudo 100% vegetariano, natural, integral!
- nada de drogas/álcool!"

Abração, e sempre pronto para mais papos!

Bem, creio que por hoje é isso... Abração!

Informação sobre Da Vinci vegetariano excluída da Wikipédia!

Não entendi por que, mas um dos colaboradores da Wikipédia tirou meu texto do artigo sobre Da Vinci.

Vejam o que escrevi na página de discussão lá: http://pt.wikipedia.org/wiki/Discuss%C3%A3o:Leonardo_da_Vinci

"Leonardo Vegetariano"

Gostaria de entender por que OS2Warp desfez o texto que coloquei sobre Leonardo da Vinci vegetariano e sua relação com os animais, inclusive tendo citado fonte do livro de Tom Regan, pesquisador e professor emérito de Filosofia da Carolina do Norte, baseado no historiador Edward McCurdy. Veja o link do livro The Mind of Leonardo da Vinci, deste historiador: http://www.questia.com/library/book/the-mind-of-leonardo-da-vinci-by-edward-mccurdy.jsp e de Tom Regan: http://tomregan-animalrights.com/book.html .

Pelo que vi, aliás, foi o único (ou quase, se não reparei bem) trecho com citação bibliográfica, algo recomendado pelo manual de estilo da Wikipédia."

Espero que me responda logo. Realmente discordo disso, mas é besteira querer ficar tirando e colocando sem discussão antes.

domingo, 19 de agosto de 2007

Leonardo da Vinci e André Matos vegetarianos!

Nossa, não sabia dessa... O gênio da Renascença italiana Leonardo da Vinci, foi vegetariano desde a infância (apesar de nunca se falar nisso em obras dele), descobri esta semana lendo o livro do Tom Regan, o Jaulas Vazias... E por isso Regan chama às crianças que desenvolvem desde cedo a consciência animal de "vincianas".

Veja mais, escrevi na Wikipédia no verbete Leonardo da Vinci: "Da Vinci tinha um amor natural pelos animais. O historiador Edward McCurdy, citado no livro Jaulas Vazias, do filósofo e professor emérito Tom Regan, menciona: "a mera idéia de permitir o sofrimento desnecessário e, mais ainda, de matar, era abominável para ele". Segundo os relatos verificados por Regan, o inventor adotou uma dieta vegetariana na infância, por razões éticas. Leonardo teria atacado a vaidade humana com as seguintes palavras: "Rei dos animais - é como o humano descreve a si mesmo - eu te chamaria Rei das Bestas, sendo tu a maior de todas - porque as ajudas só para que elas te dêem seus filhos, para o bem da tua goela, a qual transformaste num túmulo para todos os animais.""

André Matos
Também o cantor André Matos, desde os 14 anos é vegetariano. Ele já foi vocalista da banda Angra e Shaman, além da Viper... Agora segue carreira solo. (Bem, eu o conheci mais pela Angra, mesmo, até já fui a um show deles...) Esse eu soube pela Revista dos Vegetarianos número 11, nas bancas. Numa matéria sobre música e vegetarianismo.

(Imagens: Da Vinci da Wikipédia, autoria desconhecida; André Matos do site Mundo do Rock.)

Simples Nacional: super-complicado!

Esse tal de novo Super-Simples, ou Simples Nacional, só está dando dor-de-cabeça, e está mostrando como de fato é uma bagunça esse governo legislativo... No meu caso, pelo menos foi assim. Estava com minha empresa no Simples anterior, até que meu contador disse que teria que migrar para o tal Simples Nacional; então enviei pra ele alguns dados (até que depois vi que eu mesmo podia fazer isso pelo site da Receita). CPF, CNPJ e número de envio da declaração de imposto de renda de pessoa física.

depois, ele me disse que não pôde fazer a entrada de minha empresa no Simples, por causa de sua categoria. a tal categoria que a turma da Contabilidade tinha pensado direitinho para se encaixar no Simples antes. Que coisa arbitrária, essas categorias... Aí, soube que, na prática, meus impostos iriam aumentar pra burro. de uns 4-6% para uns 12%.

eu até tentei fazer eu mesmo a opção de minha empresa pelo Simples Nacional, e conferi até o que estava lá marcado no site da Receita Federal: "Declaro, sob as penas da lei, não incorrer em qualquer das situações impeditivas à opção pelo Simples Nacional previstas nos art. 3º, 17 e 29 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006."

e não encontrei nada impeditivo... mas que bagunça, viu. agora, tinha uns códigos que não encontrei na lei não. olha o que dizia como negação para minha empresa entrar no Simples:

" - Atividade econômica vedada: 6311-9/00 Tratamento de dados, provedores de serviços de aplicação e serviços de hospedagem na internet
Fundamentação Legal: Lei Complementar nº 123, de 14/12/2006, art. 17, inciso XI."

Olhei e olhei e não achei o tal impedimento. Deve ser algo que só os místicos contadores e legisladores conseguem ler.

reviravolta e "final feliz"

mas depois de chegar um monte de impostos (providenciados pelo meu contador, de acordo com como estava a lei) e eu ficar desesperado por estar sem dinheiro pra pagar, o fato é que a categoria de minha empresa se reenquadrou, pelas novas mudanças de lei do tal Simples Nacional. é. aí é jogar fora todas as contas que o contador fez, que eles vão preparar mais. só que uma parte eu já tinha pago, que é o ISS. enfim. só sei que é só desperdício de dinheiro...

bem, para quem precisar, dê uma checada se tem a sorte de ter a sua empresa enquadrada... Verifique no site da Receita Federal! E cruze os dedos... Nesse link não tem segredo, é só pôr o seu CNPJ.

Senão, vai ter que tentar verificar as opções aqui.

Atenção, o último dia pra se resolver é amanhã, segunda-feira!

pra mim, felizmente, agora tá aparecendo: "Nome Empresarial: TSUNEO SERVICOS DE INFORMATICA LTDA ME
Situação: Optante pelo Simples Nacional"

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Bem, para quem quiser ler mais sobre o assunto, esta foi uma pesquisa de links que fiz:

http://noticiatributaria.blogspot.com/2007/06/simples-nacional-cnae-atividades.html

http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CNPJ/cnpjreva/Cnpjreva_Solicitacao.asp

http://www.joaobatista.com.br/TABELAS-AtividadesImpedidasePermitidasdeOptarpeloSIMPLES.htm

Leis:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp123.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9430compilada.htm

http://www8.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional/legislacao/Resolucoes2007/CGSN/CGSN004.asp#art7

Ciclovias em SP aumentam 50%!

Olha que legal!

Zona Leste ganhará 12,2km de ciclovia

Vai aumentar em 50% o tanto de ciclovias em SP... Só não sei quando. É lógico que isso ainda vai ser muito pouco absolutamente, mas claro que é um bom passo relativamente.

Veja o texto na íntegra, do Metrô News:

"Iniciativa integra o projeto Caminho Verde; custo total da obra será de R$ 9 milhões

Maria Domingues

Os moradores da Zona Leste terão uma alternativa mais econômica e mais rápida de locomoção - dependendo do tráfego de veículos -, com a implantação de uma ciclovia de 12,2 quilômetros, paralela à Radial Leste, entre as estações Tatuapé e Corinthians/Itaquera, da Linha 3 - Vermelha, do Metrô. A iniciativa integra o projeto Caminho Verde, apresentada ontem pelo governador José Serra (PSDB) e pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM).

O projeto prevê ainda outras medidas de reurbanização, como a melhoria do sistema de iluminação, e a implantação de um novo projeto paisagístico ao longo da ciclovia, além da construção de bicicletário nas estações Carrão e Corinthians/Itaquera. O investimento é de R$ 9 milhões. Os recursos da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente serão repassados ao Metrô por meio de um convênio já assinado.

O projeto deverá aumentar em quase 50% o total de quilômetros de ciclovia na Capital. Dados da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente mostram que São Paulo conta atualmente com menos de 30 quilômetros de ciclovia e pelo menos 250 mil bicicletas.

De acordo com Ivan Piccoli, coordenador de projetos de arquitetura do Metrô, não existe uma previsão de quantas bicicletas devem circular por essa nova via. O objetivo de construção dessa ciclovia é gerar um sistema, um novo elemento modal, que atraia demanda. "Estamos indo à frente de uma necessidade. O que sabemos é que já existem muitas pessoas que se valem desse trecho sem as mínimas condições de segurança", disse.

Piccoli afirmou que pelo menos 1,6 mil mudas deverão ser plantadas ao longo da ciclovia - uma a cada 7,5 metros. Serão espécies arbóreas de todos os portes, além de forrações, gramíneas e arbusto.

As lâmpadas de 900 postes serão re-qualificadas e a rede de alimentação elétrica passará a ser subterrânea, garantindo mais segurança ao ciclista ou pedestre, já que a via será de uso compartilhado.

Os biciletários terão 250 vagas, já contabilizando as vagas da Estação Guilhermina-Esperança, a pioneira, que já conta com 100 vagas."

Pró-Ciclista

Além disso, foi criado um grupo Pró-Ciclista na Prefeitura...

http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/noticias/index.php?p=9752

Repórter da Folha
Ah, interessante a experiência do repórter da Folha... http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u3824.shtml

sábado, 11 de agosto de 2007

Blog de doações de animais ativo!

A protetora de animais Sônia Spigolon foi quem me doou os meus queridos gatos Peter e Felícia (infelizmente Felícia não está mais conosco...). Ela tem aproximadamente hoje uns 60 gatos e mais alguns cachorros! Eta, protetora de animais! Mas ela cuida deles até que alguém possa adotar (nem todos, alguns são para ficar com ela mesmo!). Além disso, ela conhece muitas pessoas que também gostariam de doar outros.

Então, entre março e abril deste ano, montei para ela, com a colaboração de minha querida Andrea Fonseca, um blog para que ela pudesse fazer a divulgação dos animais para adoção. Pois bem, mas foi somente agora, após 4 meses, que pudemos nos acertar e pude ensiná-la a usar o blog: agora ela, de maneira autônoma, está utilizando o site para fazer esse nobre trabalho.

Visite! http://animaisdepelo.blogspot.com/

(O cãozinho da foto deste post é um dos que estão para doação, tristemente jogado pela janela do carro... Leia mais aqui!)

domingo, 5 de agosto de 2007

Peixe no aquário? Curta "A Fish with a Smile" e sinta-se aquarificado


Versão resumida (1 minuto e meio)


Versão integral (10 minutos)

Comentando

Assistindo a versão resumo deste premiado curta de Jimmy Liao, de Taiwan (ilha entre China e Japão), já dá pra pegar bem a idéia de "A Fish with a Smile" (traduzindo, "Um peixe com um sorriso"... título que para mim não tem nada a ver; mas no original taiwanês devia ter.). Pois é, a edição resumida consegue mostrar as partes essenciais sim; é até um belo exercício de síntese. Mas vale bem a pena acompanhar a versão completa, com cada um de seus detalhes sensíveis.

Basicamente, um homem que se afeiçoa muito a um peixe, e depois, colocando-se no lugar dele, se dá conta de que o animalzinho seria bem mais feliz solto, pelo oceano. É muito sensível o beijinho que eles se dão, como boa noite antes de dormir, quando o peixe ainda estava no aquário, e depois, quando já está livre. Isso mostra que a amizade, o laço entre os dois, ainda permaneceria. E é essa repetição que é tão marcante e sensível na obra.

O interessante é observar como, primeiro, é o peixe imerso no universo do ser humano, preso no aquário; no fim, é o ser humano imerso no universo do peixe, no pequeno barco.

Não há mostras pelo peixe em si de que estaria infeliz lá dentro do aquário; ele parece conformado. Quem aparece desesperado é o homem, em seu sonho/viagem dimensional, colocando-se no lugar do peixe.

E de fato, o ser humano frequentemente não percebe o que sentem os animais. Mas tem autonomia para sentir empatia por eles e melhorar suas condições de vida.

Bem, creio que foi via lista de discussão Veg Brasil que soube desta animação... Belo curta. Mas foi apenas hoje, quando resolvi realmente blogar e comentar sobre, que descobri que divulgaram somente a versão de um minuto e meio. Bem que achei que estava com cara de trailer... O original tem 10 minutos, como soube por meio de um texto no site do autor. E então pude assistir a versão completa.



Procurando Nemo

E agora, vamos sair por aí quebrando todos os aquários? É claro que não é tão simples. Seria bem possível que, logo após enfim o peixinho ganhar sua liberdade no oceano, fosse devorado por um peixão. No longa animado Procurando Nemo, aparece bem essa questão dos predadores do mar. E também aparece a questão do aquário como prisão torturante para os peixes. (Até é o peixinho capturado e preso no aquário que motiva toda a aventura pelo oceano do peixe pai.)

Repare bem a diferença: enquanto o foco de Procurando Nemo, seu ponto de vista, é dos peixes, em A Fish with a Smile o foco fica nas emoções humanas. Mas nas emoções de um ser humano se "comunicando" com o peixe, sentindo algo "comum", sentindo o que ele deveria estar sentindo.

O interessante é que ambos os filmes abordam, muito bem, esse tema delicado: como o ser humano deixa animais cativos (e confinados em um espaço reduzidíssimo) por motivos egoístas, e como isso os faz sofrer. Por mais que possa haver um laço afetivo entre humano e peixe, por que um pode ter sua liberdade e o outro não? De todo modo, o importante é chamar a atenção para tal questão.

Linguagem

Ah, claro, é importante notar como a linguagem do filme é poética, com uso bem refinado e exclusivo da música, ao invés das falas. Cada vez mais percebo a importância da música na animação e nos filmes em geral para passar a mensagem, dar o tom da narrativa. Um dos resultados é que dispensa legendas, é mais fácil para internacionalizar o filme.

Premiado

Bem, não posso deixar de mencionar que o filme foi selecionado e premiado no 56o Berlin Film Festival, na Alemanha. Mas não foi só isso; também há vários outros, como melhor animação do Skyy Vodka Short Film Competition do 29o Hong Kong International Film Festival 2005; melhor filme de Taiwan no Taiwan International Children's TV & Film Festival 2006; além de ter sido selecionado para outros festivais no Japão e em Londres, de 2005.

Ah, claro, e é um filme de Taiwan; até é interessante como no site do autor, Jimmy Liao, conta-se que ficam orgulhosos por dizer que é "Made in Taiwan", em referência a tantos produtos industrializados vendidos por aí a rodo no Brasil e em todo o mundo, de modo que a frase ficou até banal. Mas não é só isso, Taiwan também produz cultura e reflexão.

Vou citar apenas um trecho do que o autor diz em seu site: "I owned a fish that was as loyal as a dog, as considerate as a cat and as caring as a lover. She always wore a smile..." (Eu tinha um peixe que era tão leal quanto um cachorro, tão atencioso quanto um gato, e tão cuidadoso quanto um amante...)

Leia mais

Leia mais sobre liberdade animal, no caso dos gatos, em meu post Desabafo no Orkut sobre Castração de Gatos, em 21 de março. Lá, além da castração propriamente dita, o que já é restringir a liberdade deles de namorar e exercer seu direito mais natural; discuti a questão de os gatos domésticos não terem a liberdade nem de sair para passear. Tudo isso em nome de sua segurança. É um dilema que eu vivo também. Tenho dois gatos, e eles não têm a permissão de sair. Aliás, isso parece muito com a discussão sobre os pais humanos darem ou não liberdade mais cedo ou mais tarde para os seus filhos humanos saírem de casa e fazerem isto ou aquilo...

(Aliás, eu também tive um peixinho Beta, antes dos meus gatos... Ele foi o meu primeiro animalzinho de estimação pelo qual eu fui o responsável mesmo, não de família; mas ele morreu tão rápido, o Aurobindo... fiquei tão triste; viveu só alguns meses, ou um mês e pouco só comigo.)

Leia mais sobre o filme no site do autor do curta, em inglês: JimmySpa.com.