domingo, 21 de outubro de 2007

A maior defesa para o vegetarianismo e os direitos animais é ética

Respondo aqui minha amiga Dani a respeito do vegetarianismo integral, de maneira que também possa responder aos questionamentos de outras pessoas.

Você dá prioridade à questão ambiental, industrial, econômica. Ok, de fato este é um problema grande que, no mundo atual, comer carne provoca, e portanto, somente analisando por este lado, concordo, estaria ok simplesmente reduzir bastante o consumo de carne. Se todo mundo reduzisse seu consumo de carne para somente, digamos, umas vezes por mês, este impacto estaria bem amenizado. Diga-se de passagem, apóio as pessoas que fazem isso.

Ética: igual consideração de interesses

Por isso não creio que a defesa do vegetarianismo mais integral, seja pelo lado ambiental, mas sim pelo lado ético (que de maneira alguma é algo emotivo, mas bastante racional e lógico), da mesma maneira que a defesa dos direitos animais em geral, em que se defende não utilizá-los como "coisas" para fazer roupas, rodeios, etc.

Vamos analisar então: Você diz que a premissa problemática deste tipo de vegetarianismo é "respeitar os animais da mesma forma como respeitamos os seres humanos". Na verdade não é esta a premissa dos defensores dos direitos animais. Ao menos como diz o filósofo Peter Singer, deve-se prestar a cada ser igual consideração de interesses. Assim, por exemplo, um cavalo ou boi não tem interesse em assistir TV ou usar internet, então não há porque exigir este direito para ele, que é algo estritamente humano.

O interesse do boi ou cavalo, facilmente percebido por seu comportamento, é não ser morto ou ferido, além de andar em liberdade, com espaço, e ter supridas suas necessidades higiênicas e alimentares, por exemplo. Necessidades mais básicas, digamos.

Assim como uma criança humana (e vários outros) não tem interesse em discutir sobre Química Quântica. Ela tem outros interesses, como brincar, por exemplo.

Ética: relevância na argumentação

Me parece que você mantém a distinção central: "somos espécies diferentes", humanos e animais. Sim, assim como, entre os humanos, há diferentes etnias e "raças", como negros, japoneses, europeus, índios. Mas qual é a relevância de ser de espécie ou etnia diferente para respeitar ou não o sofrimento de algum ser?

Parece-me que o único critério relevante para se considerar o sofrimento de alguém é se o indivíduo pode ter este sofrimento. Bem, parece bem clara esta idéia.

Afinal, de fato, nós não precisamos nos preocupar de dar um murro numa parede, porque a parede não sente nada (só nós). Mas quando evitamos bater em alguém, não é porque pensamos: "não farei isso porque ele é da minha espécie", mas sim porque "ele vai sofrer, se machucar, se eu fizer isso".

Me baseio em Jeremy Bentham, fundador da Filosofia Utilitarista, no início do século XIX, retomado por Tom Regan, neste século XXI.

3 comentários:

dani matielo disse...

Mas, Mao, quais seriam os direitos dos animais, então? Ou melhor, os interesses dos animais? Um boi tem interesse na vida, obviamente, mas isso não significa que devemos protegê-lo de morrer - sempre. Quando um lobo caça um coelho, nós não achamos que o lobo está fazenod um atentado contra o coelho. Será que não existem práticas humanas em relação a comer os animais que também poderiam ser consideradas como éticas? Será que toda vez que um ser humano mata um animal para comer, ele está sendo anti-ético? Além disso, o sofrimento dos animais é diferente do sofrimento humano, não? Se um animal luta pela sobrevivência a qualquer custo é porque se não lutasse, sua espécie não sobreviveria, certo? E nessa mesma lógica, porque é que parece razoável comer plantas? Porque elas não "sentem"? Ou porque elas sentem de uma forma diferente da nossa? Porque elas não "sentem dor"? Muitas experiências já foram feitas com plantas, demonstrando que elas são sensíveis ao sentimento das pessoas próximas... o que isso poderia significar? Existem pessoas que não comem coisas "arrancadas" das plantas, apenas aquelas que caem... Você acha que isso é "radical"? Eu acho excelente o debate sobre a postura ética em relação aos animais. Fico apenas pensando se não é possível ter uma postura ética e ainda assim continuar comendo carne.

Maurício Kanno disse...

Oi, Dani, obrigado pelo seu interesse na discussão, dialogar contigo é sempre muito interessante!

Bem, vamos ver:

1) Quando um lobo caça um coelho, não achamos que o lobo está cometendo um atentado contra o coelho, porque ele não tem outra opção de sobrevivência. E este é seu instinto, ele não tem escolha, e por isso não se fala em ética do lobo, o lobo não pode ter ética porque não tem a liberdade humana de decisão. Além disso, assim como o leão, é carnívoro, não onívoro, como o ser humano. Ou seja, fisiologicamente, o lobo aparentemente não pode se alimentar de vegetais.

2) Em que ocasiões deveríamos então proteger o boi ou o coelho de morrer?

3) Sim, eu acredito que há ocasiões em que um ser humano mata um animal e ele está sendo ético: quando não há outra opção, como quando ele é um esquimó e vive no extremo Norte do planeta; e em outras ocasiões quando o humano está num lugar sem plantas comestíveis e sua única opção para viver seria se alimentar matando animais.

4) A ética (considerando-se certo paradigma) não é absoluta, ela tem graus. Dificilmente alguém é totalmente (ou radicalmente) ético nesse ponto. Eu mesmo continuo contribuindo para o sofrimento dos animais, porque ainda me alimento de queijo.

5) Quanto à discussão sobre plantas versus animais, ela é mais complexa, por isso merece um post sobre o assunto. Ver em: http://blog.kanno.com.br/2007/10/sensibilidade-das-plantas-e-o.html

Bjs e abs...

Maurício Kanno disse...

Faltou passar o link sobre esquimós.