sábado, 2 de janeiro de 2010

Minha descoberta dos românticos romances de banca


Olá.

Lá vai meu comentário/resenha sobre a leitura de janeiro de 2010 proposta pelo chamado Desafio Literário, organizado pela Vivi, do blog (ai!) Romance Gracinha.

Pra começar bem o ano (ahah), a sugestão foi ler um chamado “romance de banca”. Leia-se: Julia, Sabrina, Bianca, Mirela, etc. Até então eu nunca havia dado muita atenção para eles. Duas razões principais: parece (e é) coisa de mocinha e também parece literatura “pobre”.

No entanto, resolvi render-me à minha curiosidade científica (eheh) e fazer a leitura sim. Aliás, isto ajuda muito a compreender melhor o universo feminino, pois elas não adoram tanto este tipo de leitura?

Confesso que gostei. Gostei muito, como há tempos não apreciava leitura de livros. Talvez desde a adolescência até, quando meu índice de leitura de histórias em livros era trocentas vezes maior.

Livro com história. Sim, porque tenho lido muito mais livros teóricos do que de histórias nos últimos tempos, quando leio algum livro qualquer inteiro.

O fato foi que li, no prazo recorde de uns quatro dias após emprestados pela Rê, autora do blog O Gato Risonho, dois livros de uma vez. E somente em meus trajetos de ônibus e metrô do jornal para casa e vice-versa, tentando conciliar com a básica leitura do jornal, claro. Aliás, é impossível ler jornal em transporte público lotado, mas livrinho dá ;).

E fiquei tão curioso na leitura, que acabei na verdade adiantando em dezembro o que deveria ler em janeiro, eheh. E li dois, apesar da proposta de ler só um!

Bem, na verdade, acho que não é segredo que os livros “cult” são frequentemente chatos pra burro. É claro, não vou desistir de lê-los, eu que sempre achei tão importante esse tipo de leitura, mas... Putz, diversão e prazer são coisas muito importantes, além do intelectualismo, não?

Eu mesmo comecei a ler há um tempo atrás “Cem Anos de Solidão”, do conceituadíssimo Gabriel García Marquez... Fui até a metade de suas quase 400 páginas, mas parei. Tudo bem, era profundíssimo e cheio de recursos poéticos, genial, mas comecei a cansar. Espero voltar um dia.

Seleção dos títulos

Vamos então aos livros em si. Li primeiro “O Anel da Vida” (116 p.), de Loreley McKenzie, da coleção “Amores Eternos” (que singelo!), da Mythos Books. Em seguida, li “Lábios de Mel” (186 p.), de Deanna Mascle, este sim da mais famosa coleção “Sabrina Sensual” (uau!), editora Nova Cultural.

Os dois livros foram escolhidos, dos que me foram oferecidos, baseando-me no nível de romantismo, aventura e sensualidade que transpareciam. Para isso, a imagem da capa e a sinopse da contra-capa (ou quarta capa, nunca sei, aquela outra visível, atrás do livro), foram fundamentais.

Nada de coisa comportada, como alguns outros pareciam, estilo “família” demais.

“Lábios de Mel”

Este me chamou mais a atenção, por isso começo por ele, apesar de ser o segundo que li.

Para começar: o título super-genérico não tem nada a ver com a história, como parece ser mesmo comum para este tipo de publicação. Ok, uma única vez a mocinha da história faz a comparação com os lábios do mocinho, mas enfim...

Aliás, cumpre informar que o título original, em inglês, era “Moon Hunter”, ou seja “Caçador da Lua”. Sinto que teria muito mais a ver, porque a história trata de aventura pela floresta pelos EUA, em época de Conquista do Oeste (ou Faroeste).

Isso é algo que me chama a atenção, claro, pois fui jogador de RPG por muitos anos, por toda a adolescência. RPG: jogo em que se interpretam personagens, com ficha, números, dados, narração, e frequentes combates com seres perigosos.

A história em si é divertida, envolvente. Novelinha básica: mocinha encontrada em apuros na floresta, com sua filhinha fruto do casamento zoado com um cretino. Ela acaba conhecendo um moço protetor que faz de tudo para protegê-la, super bem intencionado. Ele parece ter apenas a nobre missão de proteger os fracos e comprimidos...

Dilemas amorosos

Mas claro, Mack, o gentil e cavalheiro mocinho da história, acaba ficando apaixonado pela moça, enquanto a acompanha até levá-la em segurança. Apesar de não querer admitir isso. E fica naquele vai-não-vai.

O moço fica no dilema de querer apenas cumprir sua missão de proteção, tentando se recuperar de um passado dele, em que teria falhado vergonhosamente. Além disso, ele preza muito sua vida independente para formar laços com qualquer mulher que seja.

Acho que este é um ponto bem importante: de fato os rapazes costumam enfrentar este dilema mesmo: sua independência e liberdade versus envolver-se (até que ponto?) com a garota que mexe com eles?

Mas a mulher que ele acompanha (e cuida dos ferimentos dele, além de também ajudá-lo contra uns selvagens que aparecem, pois ela é durona mesmo!) é cada vez mais irresistível para ele.

Por seu lado, a moça, Rebeca, só queria saber de cuidar de sua filhinha. Depois de sua experiência anterior horrível, não quer mais nunca saber de homens. Apenas tolera o tal Mack para seguir protegida pela floresta até algum lugar mais seguro.

Mas ela acaba ficando balançada, enfim. A história ondula entre as dúvidas amorosas dos dois protagonistas. Foi uma novelinha e romance (no que se trata de amor, claro), gostosa de acompanhar. Inclusive há de fato trechos picantes, eheh. Interessante esse tipo de narrativa com detalhes e descrições do percurso amoroso. Não conhecia, mas hiper-aprovei, apesar dos exageros caricatos às vezes.

"O Anel da Vida"

Bem, se citei no fim “exageros caricatos” para o outro livro... “O Anel da Vida” sim, é cheio deles. Tanto para a descrição dos personagens, excessivamente lindos e maravilhosos, além de suas emoções, barrocas, derramadas.

Clichês não faltam, mas sempre funcionam.

A começar, temos a Cinderela: Martha, totalmente explorada pelos irmãos e pela mãe, demônios em pessoa. Eles a exploram, o chefe da empresa também, os colegas de trabalho também.

E ela sem coragem alguma de revidar. De ter iniciativa para mudar esta situação. De exigir justiça. Uma fraca.

Mas eis que, assim como acontece nas histórias do Homem-Aranha, em que o estudante CDF e alvo de todos os bad boys da escola Peter Parker vira um fortão e ágil super-herói; ou mesmo Harry Potter, em que o também explorado pela “família” e órfão garoto vira um feiticeiro, pré-destinado a salvar o mundo dos bruxos e ser o maior de todos, mesmo ainda criança...

Algo acontece para a pobre e medrosa Martha. Ela ganha um anel (sim, o do título do livro, que agora sim tem a ver com a história, huahua). Um anel que tem o poder de dar força interior, coragem, para que a moça vença todos os seus desafios.

Bom, essa história de misticismo, esotérico, foi algo bacana que apareceu também, que também me chama a atenção, lembrando de meu histórico de jogador de RPG, em que também muita magia é obrigatória.

Mulher moderna

Um diferencial interessante para a história é que trata da vida da “mulher moderna”, que busca sua independência financeira e nos demais setores da vida (li algo assim mesmo sobre esse tipo de romance de banca em alguma matéria por aí).

Isso mesmo: mostra como, ao fim e ao cabo, ela consegue ser bem-sucedida em todos os aspectos de sua vida: não só o amoroso, como foi mais centrado o romance que li da “Sabrina Sensual”, mas também o lado profissional e familiar.

Aliás, o lado profissional é bem importante mesmo nesta história; é claro, bastante interligado com o lado amoroso e místico, até porque a mocinha da história consegue o trabalho novo via anel místico e via um belíssimo “Senhor Perfeito”, como ela o chama em pensamento.

Tem também um lado de suspense policial, mistério, que a mocinha acaba também tendo de lidar no seu trabalho, que a coloca até em perigo.

Ou seja, nisso tudo, o lado de romance “romântico” acaba sendo mais um detalhe. Mas bem derretido e caricato, com certeza.

Posso até chamar a história de bobinha, mas é divertida, curiosa, completa, e não me deixou parar de ler nem um instante, até terminar, eheheh.

Além de ter o mérito de chamar a atenção para o sucesso profissional feminino e até mesmo de fazer os leitores (e especialmente as leitoras, ahah) refletir sobre as besteiras que têm feito em sua própria medrosa vida pessoal, profissional, amorosa, etc. Neste sentido, é bem um livro de auto-ajuda sim. ;)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Desafio Literário 2010: minha lista de livros revisada

Bem, lá vai. Depois de fazer uma pesquisa inicial em busca da retomada de saborear histórias contadas em livros e lançar uma lista provisória, refinei a lista com a ajuda da , e vamos lá, segue a lista atualizada com meus objetivos literários para 2010.


Uma coisa é certa: minha lista, apesar de preservar ainda clássicos, tornou-se mais divertida e prazerosa, eheh. Creditando: esta iniciativa faz parte do Desafio Literário by RG (Romance Gracinha).

[ai, ainda não creio que participo de um desafio com esse nome..., eheh, mas vá lá, é bom conhecer mais o universo feminino... e tá sendo msm ótimo esse gás pra retomar o belo hábito pela leitura de histórias em livros que eu tinha qdo adolescente]

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JANEIRO – Romances de banca femininos, ao estilo de Júlia, Sabrina, etc.

Lábios de Mel (Deanna Mascle), da coleção “Sabrina Sensual”, editora Nova Cultural (186 p.)

O Anel da Vida (Loreley McKenzie), da coleção “Amores Eternos”, Mythos Books (116 p.)

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FEVEREIRO – Um livro que nos remeta aos contos de fada.

Lost Girls: Meninas Crescidas (Alan Moore e Melinda Gebbie)

Alice in Wonderland [Alice no País das Maravilhas] (Lewis Carroll)

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MARÇO – Um clássico da Literatura universal.

1984 [1984] (George Orwell)

Les Misérables [Os Miseráveis] (Victor Hugo)

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ABRIL – Um livro de escritor(a)Latino-Americano. Leitura inédita só para lembrar!

Ficciones [Ficções] (Jorge Luís Borges, argentino);

Juego de Niños [Jogo de criança] (Carmen Posadas)

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MAIO – Um Chick-lit, conhecido como "literatura para garotas" ou ainda "Literatura de Mulherzinha", de acordo com o blog "Lost in Chick-Lit". A autora também descreve: "são romances leves, divertidos e charmosos, que são o retrato da mulher moderna, independente, culta e audaciosa."

(Pois bem, lá vou eu então, novamente embarcando no universo feminino, com a consultoria da Rê de novo, rs)

Marsha Mellow and Me [Marsha Mellow e Eu] (Maria Beaumont)

Bridget Jones´s Diary [O diário de Bridget Jones] (Helen Fielding)

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JUNHO – Um livro de uma escritora brasileira.

A Paixão Segundo G. H. (Clarice Lispector)

A Caverna de Cristais (Helena Gomes)

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JULHO – Um livro adaptado para o cinema.

O Hobbit (J. R. R. Tolkien)

Lavoura Arcaica (Raduan Nassar)

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AGOSTO – Um romance policial.

A Study in Scarlet [Um estudo em vermelho] (Sir Arthur Conan Doyle) - estreia de Sherlock Holmes

The Murders In The Rue Morgue [Assassinatos na Rua Morgue: e Outras Histórias] (Edgar Allan Poe) - pode ser considerada a inauguração do romance policial

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SETEMBRO – Um romance histórico.

Kyoto (Yasunari Kawabata) - Nobel de Literatura!

Xógum - A Gloriosa Saga do Japão [Shōgun {将軍} - A Novel of Japan] (James Clavell)

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OUTUBRO – Um livro que contenha uma "lição de vida". Pode ser ficção ou não-ficção.

Nelson Mandela - Leçon de vie pour l'avenir [Nelson Mandela - Uma Lição de Vida] (Jack Lang, ex-ministro da Cultura da França)

Still Alice [Para Sempre Alice] (Lisa Genova)

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NOVEMBRO – Um livro de escritor(a) de Portugal. Com a aproximação ortográfica porque não uma aproximação literária?

Caim (José Saramago)

O Evangelho Segundo Jesus Cristo (José Saramago)

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Dezembro – Um livro (ficção ou não ficção) que tenha a palavra "Coração" no título.

Inkheart [Coração de tinta] (Cornelia Funke)

Kokoro [Coração] (Natsume Soseki)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Desafio Literário: Minha Lista de Livros para 2010

A princípio, não levei nem um pouco a sério a ideia da Rê, autora de O Gato Risonho, com um tal de Desafio Literário by RG (Romance Gracinha).

Ainda mais por a lista de categorias propostas incluir livros de banca como "Sabrina" e "Julia" e até mesmo 'títulos com a palavra "coração" no meio'. É claro, é dirigido para garotas. Ah, essas mulheres!...



Mas depois percebi que daria pra enriquecer e aprender muito se eu encarasse esse desafio, e daria pra encaixar diversas obras refinadíssimas da literatura mundial e brasileira.

Aliás, adicionei um desafio a mais para mim: sempre que possível, ler as obras no idioma original!

Então, lá vai, abracei a causa. Segue minha lista provisória (calma, a ideia é só um por mês! ainda vou escolher quais deles!), após uma madrugada de pesquisa e seleção (após a menção a cada mês, segue a descrição da categoria por Vivi, a autora do desafio):

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Janeiro – Para facilitar a vida de todas, leituras rápidas para o primeiro mês do ano. O desafio é ler um Romance de Banca ao estilo da Nova Cultural, Harlequin, entre outros livros vendidos em bancas. Vale qualquer segmento, Clássico Históricos, Momentos Íntimos, Júlia, Sabrina, etc... Tenho certeza que você tem um livro na pilha esperando para ser lido. Portanto não há desculpas.

Ahah, a selecionar. Sabrina Sensual me pareceu atraente... eheh. Mas Julia ou Sabrina são clássicas demais para perder a oportunidade para conhecer.

(Trechos de matérias publicadas a respeito:

"Atualmente, a Série é composta por oito livros com periodicidades diferentes: “Julia”, “Sabrina”, “Sabrina Sensual”, “Bianca”, “Clássicos Históricos”, “Clássicos Históricos Especial”, “Bestseller” e “Mirella”. “Os lançamentos semanais como “Julia” e “Sabrina” são os que mais vendem. Depois, o preferido é “Clássicos Históricos”."

"A série Sabrina é mais romântica e com sexo light, Júlia é para a mulher madura e independente, Bianca aborda o casamento com humor, e as novas Mirella e Sabrina Sensual são mais apimentadas.")


Fevereiro – Um livro que nos remeta aos contos de fada. È baba! Nem tudo é inovação. Há muitas histórias baseadas nos contos de fadas. Patinho Feio, A bela e a fera, Cinderela...

The Complete Fairy Tales and Stories [Contos] (Hans Christian Andersen), Alice in Wonderland [Alice no País das Maravilhas] (Lewis Carroll)


Março – Um clássico da Literatura universal. Só vale aquele que você nunca leu na vida. Sabe aquela coleção em destaque na estante que está lá só para fazer bonito? È lá que você vai pescar esse.

1984 [1984] (George Orwell), Les Misérables [Os Miseráveis] (Victor Hugo)



Abril – Um livro de escritor(a)Latino-Americano. Leitura inédita só para lembrar!

Ficciones [Ficções] (Jorge Luís Borges, argentino);




Maio – Para aliviar, vai aí um Chick-lit. O mar está para peixe no que diz respeito ao gênero.

Pride and Prejudice [Orgulho e Preconceito] (Jane Austen)




Junho – Um livro de uma escritora brasileira.

A Paixão Segundo G. H., Perto do Coração Selvagem (Clarice Lispector)



Julho – Um livro adaptado para o cinema. O que mais há ultimamente!

Lavoura Arcaica (Raduan Nassar), I, Robot [Eu, Robô] (1950, Isaac Asimov), The Lord of the Rings [Senhor dos Anéis] (John Ronald Reuel Tolkien)



Agosto – Um romance policial. Vale os autores mais clássicos ou autores do romance “romântico” policial.

A Study in Scarlet [Um estudo em vermelho] (Sir Arthur Conan Doyle); The Murders In The Rue Morgue [Assassinatos na Rua Morgue: e Outras Histórias] (Edgar Allan Poe),



Setembro – Um romance histórico. Cá entre nós, esse gênero é o queridinho de muitas!

[Война и мир] Guerra e Paz (Leon Tolstói), [Shōgun {将軍} - A Novel of Japan] Xógum - A Gloriosa Saga do Japão (James Clavell)



Outubro – Um livro que contenha uma lição de vida. Pode ser ficção ou não-ficção. Viu como facilitei?

Nelson Mandela - Leçon de vie pour l'avenir [Nelson Mandela - Uma Lição de Vida] (Jack Lang)


Novembro – Um livro de escritor(a) de Portugal. Com a aproximação ortográfica porque não uma aproximação literária?

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Caim, Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago)



Dezembro – Um livro (ficção ou não ficção) que tenha a palavra "Coração" no título.

Inkheart [Coração de tinta] (Cornelia Funke), The Tell-Tale Heart [O Coração Revelador] (Edgar Allan Poe), El Corazón Amarillo [O Coração Amarelo] (Pablo Neruda)

domingo, 16 de agosto de 2009

Post 300! - Meu perfil político: centro-esquerda liberal

Post comemorativo n. 300!

De todo modo, veja o resultado de meu teste político na Veja.com:



Faça o teste vc tb e diga o seu resultado: http://veja.abril.com.br/idade/testes/politicometro/politicometro.html

sábado, 15 de agosto de 2009

A transformação de uma peixa japonesa e uma sereia em humanas na animação

(20/02/09) O que dizer de um peixe, ou mais propriamente, uma peixa, que deseja, com todas as suas forças, virar humana? E ela de fato se transforma. Tudo isto para ficar junto de um menino humano da superfície. Esta é a idéia principal de Ponyo (2008), o último filme do consagrado cineasta de animação japonesa Hayao Miyazaki. O nome original é Gaku no ue no Ponyo, o que significa algo como “Ponyo no alto do penhasco”.

A idéia não é nova. Apesar de ter ficado famosa no cinema com A pequena sereia (1989), dos estúdios Disney, há também uma versão de filme francês (1980), russo (1976), tchecoslovaco (1975) e também outra animação japonesa (1975). Todas baseadas em história original escrita por Hans Christian Andersen (1805-1875), escritor dinamarquês famoso por seus contos de fadas.

As diferenças principais são que, ao contrário de a protagonista no original e no filme Disney ser uma sereia, ou seja, uma criatura metade humana, metade peixe, que vive no fundo do mar; na versão de Miyazaki ela é uma peixe mesmo. Além disso, em Disney, ao invés de a relação se dar entre jovens, o que gera um apelo explicitamente romântico; no filme, a relação se dá entre crianças, criando assim um clima de amizade pura e inocente mesmo.

No entanto, que mensagem passa, afinal, essa dedicação tão forte em essas garotas, sejam peixe ou sereia, virem para o lado de cá, dos humanos? Largarem mão de toda a sua vida lá e virem pra cá?

O que mais deve transparecer em uma análise crítica, claro, é a de superioridade que a espécie humana se arroga sobre os outros animais. Na história, é o animal, ou meio animal, que necessita se transformar em humano; e não o contrário. Isso não parece positivo. É uma supervalorização do mundo humano.

Contexto, dominação e valorização de classes

É importante lembrar também do contexto da história original: Andersen viveu no século XIX na Europa, a época do imperialismo das potências européias sobre os continentes africano e asiático. Qual era o discurso que legitimava toda essa invasão? Levar o “progresso técnico-científico” para os povos “sem cultura”, “não evoluídos”. Aliás, o Japão também foi potência imperialista. Assim, pode haver uma comparação destes povos com os imaginários “meio-animais”, que também ficariam admirados com o “mundo superior”.

Ressalte-se que as personagens peixe ou sereia fazem todo o esforço do mundo, usam magia e tudo o mais para alcançar seu objetivo. Isso também demonstra uma força de vontade fenomenal tanto das personagens femininas como animais.

De qualquer modo, podemos deixar de lado a questão de superioridade humana citada, para destacar mais a questão da amizade entre mundos. Nós somos humanos, e o filme é dirigido para nós. Seria talvez difícil o público entender tão bem a história se a amizade se passasse entre peixes. O enfoque que dá Miyazaki à amizade entre seres de universos diferentes é belíssima. Tumultuada, desesperada, encantada e transcendente.

A história tem muita magia envolvente, cheia de ondas e peixes gigantescos, tsunamis, a coragem da mãe durona do garoto, entre outros encantos que se dão bem com o estilo de desenho colorido e denso de Miyazaki. Este autor, diretor do Studio Gibli, tambem produziu Viagem de Chihiro (2001) e O Castelo Animado (2004), conhecidos no Brasil.

No Brasil, ainda deve estrear entre junho e outubro de 2009. Será bom poder assistir em português. Por mais que tenha sido possível pegar uma idéia geral da história em japonês no Japão (sem legendas em inglês), não foi assim tão simples entender, apesar de desfrutar o original em primeira mão...


[Originalmente publicado como Artigo 8 para a ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais) em 20/02/09; como minha coluna saiu do ar lá por um tempo, apesar de agora retornar aos poucos, em dupla, republico aqui, no momento em que "Ponyo" está como um dos 10 "trending topics" do Twitter]

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Minha experiência no 12º Festival Vegano Internacional e Grupo de Estudos de Direitos Animais

Geda, interação, palestras ao mesmo tempo, programação no site e refeições

(10/08/09) Fui convidado para apresentar neste festival, em palestra, a experiência com o Grupo de Estudos de Direitos Animais (Geda), que fundei em São Paulo. O convite partiu de Marly Winckler, organizadora do evento, que aconteceu no Rio de Janeiro, entre 22 e 25 de julho de 2009.

Ela me pediu um depoimento, e aqui está. Para mim foi sinceramente uma honra participar, ainda por cima como palestrante, de um evento como este, tão grandioso e com convidados internacionais e também de diferentes Estados do Brasil. Aliás, rever a própria Marly, que eu havia conhecido pessoalmente e encontrado apenas uma vez, quando estava começando meu caminho no movimento, e com quem me correspondia com alguma requência, também era importante. Ela era uma inspiração.

Ultimamente, eu estava procurando me afastar um tanto das atividades pelos direitos animais, focando questões pessoais em atraso, especialmente profissionais. Por isso inclusive a socióloga e professora Tânia Vizachri acabou assumindo a organização do Geda, com apoio de outros importantes colaboradores, a quem agradeço. Assim, o tempo e dinheiro investido na viagem me faziam hesitar.

Mas a oportunidade de apresentar o grupo em um evento como este e conhecer o Rio de Janeiro – famosíssima cidade em que eu jamais havia colocado os pés, mesmo morando em Estado vizinho – me impulsionaram muito na decisão de aceitar o convite e ir. Além de ter o amigo Bruno Müller para hospedar e desfrutar da companhia na cidade.

Minha palestra sobre o Geda
Por volta de 12 pessoas assistiram minha apresentação, com powerpoint atualizado no dia da partida, sexta-feira – viajei de madrugada para poupar tempo. Foi mesmo muito gratificante ver pessoas de outro lugar do Brasil interessadas na experiência do grupo de estudos, perguntando detalhes de organização e programação, pensando até em montar atividades similares em sua própria cidade.

A maioria, me parece, eram mesmo do Rio, mas também havia um rapaz de Belo Horizonte, que havia conversado comigo antes da palestra, logo que cheguei ao evento, já demonstrando seu interesse no tema. Charles de Freitas Lima, famoso ativista que conhecia de nome pelas listas de discussão sobre direitos animais, foi outro presente que me honrou com sua presença e interesse.

Quem se interessar, pode ver o powerpoint aqui:



E pode ouvir o áudio da palestra aqui (que vergonha!):
http://geda.podomatic.com/entry/2009-08-09T23_06_02-07_00

Nesta página aparecem informações sobre o Geda e eu mesmo, no site do Festival.

(download do ppt aqui: http://sites.google.com/site/grupogeda/arquivos/historia-geda-24-07-09.ppt )

Festival e o grupo de estudos
Pra ser sincero, mesmo sendo novo no movimento, já estou um pouco cansado de palestras sobre direitos animais. Parece paradoxal dizer isso, vindo de alguém de um grupo de estudos, não? Mas a dinâmica de eventos proposta do Geda é bastante diferente.

Ao invés de uma grande concentração de palestras em alguns dias seguidos, fazemos apenas duas, separadas por um intervalo com lanche e bate-papo, e tudo isso em apenas 3 horas, uma vez por mês. Isso é mais palatável para mim.

É claro, eventos de imersão como este 12º Festival Vegano Internacional, além do 2º Seminário de Direitos Animais da USP e o 1º Encontro Nacional de Direitos Animais, tendo participado destes últimos no ano passado, são louváveis, especialmente para quem mora longe dos grandes centros urbanos e fica mais fácil separar dias seguidos para viajar e se dedicar. É minha posição pessoal, mas de todo modo ofereço a proposta alternativa a quem interesse.

Interação com os participantes
Foi muito bacana poder conversar com pessoas de países diferentes; por exemplo, em inglês com um professor que trabalhou toda a vida em Londres e agora mora na Califórnia; em espanhol com uma estudante intercambista que veio da Califórnia, filha de indianos; e conhecer especialmente tanta gente do Rio, entre outros que só conhecia virtualmente, como Thaís Shanti e Eliane Lima. Além de rever os ativistas de São Paulo.

Na verdade, para mim, isto é o essencial de um evento grande como este: conhecer pessoas diferentes. Então, tinha vezes até que acabava ficando mesmo de fora das palestras pra bater um papo com alguns. Esta interação informal me parece essencial, e seria bacana oferecer mais espaço para isso.

Pena que perdi a oportunidade de conhecer pessoalmente o Carlos Naconecy, doutor em Filosofia cujo livro “Ética & Animais: um guia de argumentação filosófica” foi essencial para mim e foi base para muitos dos primeiros eventos do Geda. Um mentor a quem devo muita orientação, inclusive pela troca de ideias por e-mails.

Quando o festival estava encerrando, eu, caindo de sono de cansaço, acabei indo embora, e meu amigo Leon Denis me disse que Naconecy havia me procurado pouco depois de minha saída, com a amiga Vânia Daró.

Palestras ao mesmo tempo
Não sei se é estratégico colocar mais de uma palestra ao mesmo tempo, ainda mais tantas de cada vez. Isso sobrecarrega e dispersa a atenção dos participantes. Era triste ver meio vazio o auditório grande em que ocorreu a palestra da esperada escritora Regina Rheda, que veio dos EUA.

Ouvi frustração a respeito de haver na programação ao mesmo tempo mais de um super-palestrante que o participante queria ver, por exemplo. Quando isso ocorria comigo – e era frequente – a minha própria tática, apesar de isso parecer não muito polido, além de superficial; foi ver um pedaço da palestra de um, e um pedaço da palestra de outro; como fiz com a Patrícia, que falou sobre sua bela experiência do Santuário das Fadas.

Por outro lado, é claro que isso possibilita um grande leque de opções para os participantes, claro. Dificilmente a minha palestra aconteceria se houvesse apenas uma por vez, que privilegiaria os medalhões do movimento. Isso possibilitou que o público pudesse tomar contato com diferentes experiências e ideias, até com as minhas, de um novato de apenas pouco mais de um ano e meio de ativismo.

Programação no site
Outra dificuldade que tive foi me programar com antecedência, já que eu sabia apenas o horário da minha palestra. Pude ver folhetos completíssimos com a farta programação ao chegar, mas realmente não consegui encontrar pelo site antes essa programação, somente os nomes dos convidados e suas biografias, sem referências específicas de horários.

Um destaque para a tabela geral no menu principal do topo ia bem. Depois acabei achando, mas estava em ordem alfabética no vasto menu lateral como “Programa”, o que um desavisado como eu acabou deixando passar.

Refeições
Também proponho dar mais atenção às refeições. Parecia não haver oferta de almoço pra valer na hora do almoço, mas somente lanches dos estandes. É claro, adorei prová-los, deliciosos, como hambúrgueres e pastéis, mas ouvi queixas de participantes a respeito dessa falta durante a semana, tendo que se virar com os lanches. Um deles resolveu até sair do festival para almoçar fora em um dos dias.

Infelizmente perdi o “Junta-Prato” que ocorreu somente no sábado; acabei me dando conta de que ocorria quando já estava terminando...

Maurício Kanno