sexta-feira, 28 de maio de 2010

Contos de fadas pervertidos em HQ e outros erotismos


"Garotas Perdidas". É esse o nome que ficaria em português do nome original do "romance em quadrinhos", ou graphic novel "Lost Girls", do renomadíssimo quadrinhista britânico Alan Moore (roteiro) e sua esposa Melinda Gebbie (arte).

Trata-se de um grande festival de pornografia em quadrinhos com três protagonistas de contos de fadas que povoam nosso imaginário: Alice, de "Alice no País das Maravilhas"; Wendy, de "Peter Pan"; e Dorothy, de "O Mágico do Oz".

Devo dizer que conheci as duas primeiras personagens por adaptações infantis da Disney para desenho animado e quadrinhos; e a última, Dorothy, por peça de teatro infantil adaptada.

Ou seja, elas costumam estar sempre associadas a algo realmente infantil. Quebrar esta dimensão, ou seja, transpor as personagens para o universo especificamente adulto, por tratar de sexo e pornografia, é realmente fascinante. Dá outra perspectiva para as coisas.

De fato, é divertido ver a relação "diferenciada e bem próxima" entre Wendy e Peter Pan, especialmente, foi a que me pareceu mais interessante, mais cativante. A história de Alice ficou transposta para um mundo surreal cheio de erotismo. E a de Dorothy mostra sua também "diferenciada e bem próxima" relação com o homem de lata, espantalho e leão...

Comparando com "literatura de mulherzinha"

Vale a pena aqui fazer comparações com outras obras, para contextualizar melhor.

Publiquei há dois dias uma resenha sobre o livro voltado ao público feminino "Marsha Mellow e Eu". Lá eu escrevia que havia a possibilidade de chamar esse livro de "pervertido". Mas fica muito longe de "Lost Girls" nesse quesito.

Afinal, apenas no máximo são narradas situações em que a mocinha protagonista vivencia o sexo bem adoravelmente, ou o imagina, ou ainda o descreve --baseada nas experiências do "aventureiro" amigo gay-- no seu próprio livro "Anéis nos Dedos Dela".

Ela fica até encabulada quando são citados trechos pervertidos de seu livro (cuja autoria ela não assume), mas mostra-se bem cheia de desejo e empolgação quando tem oportunidade de viver a própria vida sexual (bem escassa, segundo ela mesma), com um ou outro homem que a atraia.

Ressalte-se que ela deixa claro ao parceiro que há limites, não aceita bizarrices como ménage à trois ou casa de swing. Ou seja, aparenta ser uma garota "normal".

Mundo bissexual

Já em "Lost Girls", a coisa é bem diferente. Além de mostrar com imagens trocentas cenas fortes (que eu não vou mostrar aqui, pra que este blog não fique impróprio pra menores) (e apelo visual no sexo é melhor para homens que para mulheres, aprendi), a liberalidade sexual é total. Vale tudo.

O que importa aqui é o prazer sexual, não importa se com homem, com mulher, com só uma ou com várias pessoas ao mesmo tempo. O interessante é que tudo isso parece absolutamente normal. Todos parecem se entregar sem problemas a esta festa coletiva onde todos são bissexuais.

(Ok, há alguns trechos em que se mostra o tradicionalismo e moralismo restringindo sequer a possibilidade de uma vida sexual "normal", entre marido e mulher. Mas é a exceção.)

Análise quadrinhística

Como obra em quadrinhos, não gostei.

A arte visual é finamente trabalhada por Melinda Gebbie. Como se fosse mesmo cada quadro uma pintura a ser exposta em museu. São lindas. Mas estáticas. Sem aquela boa sensação de ação, de dinâmica, de movimento.

Com enoorme frequência, os textos utilizados aparecem fora dos balões. E, aliás, na verdade bem frequentemente não há balões. Os textos são colocados para fora do quadro, como mini-livros. Os textos são gigantes. Isso não é para quadrinhos. Isso cansa.

Tanto que eu nem tive saco para acabar de ler as 320 páginas de seus três sub-livros em formato grandão (maior que tamanho sulfite A4!). [Comprei o original em inglês; no Brasil, foi publicado separadamente nos 3 sub-livros, cada um bem caro.]

Dá impressão até que foi uma obra originalmente escrita em livro só texto, depois bem mal adaptada para quadrinhos, como quem não sabe fazê-lo. Então, me estranha muito que o renomado Alan Moore a tenha escrito. Enfim, quis ousar, sei lá. Ele pode, né?

Além disso, chega uma hora em que começa a cansar o roteiro da história. Não muda muita coisa, não há grandes reviravoltas, é tudo meio repetitivo, tanto no caso das lembranças eróticas das protagonistas em flashback como o próprio transcorrer em si da história. Apenas o sexo, festejado das costumeiras maneiras pervertidas.

Comparando com clássicos ocidentais

Eu já li (e vi) também outros clássicos quadrinhos eróticos. Creio que o principal europeu na área é Milo Manara, e o principal brasileiro, Carlos Zéfiro. Estas histórias, além de serem bastante excitantes, também tinham histórias com muita ação, divertidas, envolventes, penso eu

(Por mais doidas que fossem, como a aventura da jornalista Cristiane investigando um templo de culto às energias do orgasmo na Amazônia, na obra "Cliic 3", do Manara. Também é cativante a história de Gullivera... versão feminina sexy do relativamente gigante Guilliver.)

Para não deixar minha opinião sobre o roteiro de "Lost Girls" simplesmente negativa, então, vou concluir que haja aí uma linguagem mais... poética, e assim não tão inteligível.

Comparando com mangás

A delicadeza do mangá "Futari H" é bem diferente. Apesar de ser um "guia do sexo", explorando didática e explicitamente diversas posições e dicas sexuais, tudo isso aparece especialmente na relação de um casalzinho "normal": um homem e uma mulher.

Apesar de incluir vários devaneios de hipotéticas "traições" heterossexuais do protagonista Makoto... Não se ousa tocar no ponto do homossexualismo, por exemplo.

Além disso, tudo é explorado de modo bem delicado, inclusive nos desenho, tudo "kawaii", fofinho.

Um ponto curioso nos mangás eróticos que li é que nunca aparece o pênis dos personagens masculinos. Em "Futari H", propositadamente sempre ele fica escondido, às vezes até com uma espécie de tarja. (A exceção fica para as didáticas explicações anatômicas e enciclopédicas, sempre divertidas.)

Até mesmo nas obras em quadrinhos de Senno Knife, como "Sade" e "Tempest", que adapta clássicos literários com tendências bem fortes ao horror e uma abordagem do sexo bem mais pesada, com estupros, "sadismo" e etc..... Até neste caso o pênis é censurado, e no máximo é representado por uma espécie de facho energético... Curioso, não?


Resenha produzida para o Desafio Literário 2010, organizado pelo blog Romance Gracinha. O objetivo era ler e resenhar algum livro baseado em contos de fadas... eheh.

[Veja minha lista de livros programados para 2010 aqui.]

2 comentários:

Dea disse...

Uau adorei!! Me empresta um dia? Fiquei com muita curiosidade! Comecei a re-gostar de quadrinhos quando li o da Marjane Sartrapi, iraniana, um biopico que depois virou filme, sabe qual eh? to me esquecendo o nome mas eh MA_RA_VI_LHO_SO! Se vc nao leu posso te emprestar assim que meu irmao terminar. E meu tenho muito a falar c/ vc quero um prof de japones!! quer ser? rs vamos almoçar/happy horar/jantar? Me avise!! Bjos

Laura disse...

Oi Maurício!
Vim aqui só pra te dizer que não concordo rsrsrsrs
Gostei muito de lost girls, não achei o roteiro ruim como você diz... e também não achei o texto longo demais. Fora que não vejo a menor necessidade dele vir em balões rsrsrs
Mas gostei da sua resenha, vou checar outros quadrinhos que vc mencionou!
Ah, e Dea, o quadrinho que você menciona é Persépolis!
Abraços
www.leiturasdelaura.blogspot.com