Olha, é extremamente difícil de acreditar que pessoas bem intencionadas como o grupo da Afropress / ong ABC sem Racismo estejam se dedicando a atacar de tal maneira o Fábio Paiva, fundador da ong Pelo fim do holocausto animal. Ele é uma pessoa extremamente séria e dedicado a uma causa nobre, de incentivar às pessoas que respeitem e não causem sofrimentos aos animais.
Não conhecia a equipe da Afropress, mas pelo visto se dedicam a promover a causa das pessoas afrodescendentes. É ótimo haver grupos deste tipo, buscando superar a tradição tão negativa dos anos pós abolição da escravatura no Brasil. Eu mesmo gosto muito da cultura afro-brasileira: pratico capoeira e adoro este esporte/cultura/música, fiquei muito feliz de conseguir meu primeiro cordão, com o mestre João de São Paulo, e aprender a fazer tantas manobras que não conseguia antes.
Aparentemente, apesar desta equipe estar tão afinada com a causa dos afrodescendentes, que já passaram por tantas dificuldades e ainda passam, pela abolição oficial de sua escravatura no Brasil ter sido relativamente recente, no fim do século XIX, esta equipe, apesar de dizer que o faz, não considera o sofrimento dos animais, que são tão sensíveis como os humanos, e assim também merecem a abolição de seu sofrimento e consideração de sua dignidade, e resolve atacar um dos mais ativos defensores dos animais, o Fábio Paiva. Lembrar que os defensores dos animais como ele são extremamente necessários, porque os animais não podem se defender ou lutar por seus direitos.
Dignidade universal
Fábio Paiva, como outros defensores dos direitos animais, tem uma profunda consideração e respeito pela dignidade dos seres. Ora, assim sendo, como poderia ele ter a remota intenção de ofender ou discriminar a segmentos da espécie humana, que também é uma espécie animal, a tal Homo sapiens? É um raciocínio fácil de ser feito, creio eu, que ele não teria essa intenção.
Difícil imaginar como alguém pode entender que a comparação de imagens e fatos feita por Fábio, um ativista dos direitos animais, não esteja se referindo ao sofrimento e discriminação por que passaram animais humanos, neste caso por simples diferença de etnia e/ou religião, e por que ainda passam animais não humanos, neste caso por simples diferença de espécie.
Se alguém quisesse de fato, hipoteticamente, comparar humanos a outros animais (considerando que isso seja uma ofensa; aliás, é interessante notar como é fortíssimo este preconceito humano com os outros animais), não precisaria utilizar imagens de sofrimento. Poderia pegar imagens de humanos e de outros animais numa situação qualquer, mais padrão, digamos.
Quem parece estar agindo de maneira preconceituosa é a ong ABC sem Racismo / Afropress, porque atribuem a hipotética comparação do humano com outros animais como um insulto. Ou seja, consideram os outros animais seres extremamente inferiores. Por isso são incoerentes ao dizer que apóiam a causa animal.
Insulto imaginativo e lembrança do mau
Por que seria um insulto a associação de imagens da crueldade com animais com os sofrimentos, as humilhações, torturas e mortes praticadas no escravismo de negros e no holocausto contra judeus? Ora, certos sofrimentos já são bem reconhecidos pela humanidade; outros não são. E é isso o que aparentemente Fábio Paiva quis mostrar, que o sofrimento de outros animais é tão horrível quanto foi o sofrimento de certas populações humanas.
Por acaso, lembrar sofrimentos significa insultar seus representantes? Ora, quando Picasso pintou Guernica, ele estaria insultando esta população, ao retratar e lembrar o que sofreram? Quando frequentemente se lembra da bomba atômica lançada sobre Hiroshima e Nagasaki, e se mostram os japoneses que sofreram as consequencias, se está insultando estas vítimas? Não. Se está lembrando, buscando mostrar esta dor, para que isto jamais aconteça.
E é por meio desta estrutura de lembrança, que Fábio, na situação criticada, acaba na verdade, tanto por criticar o mau tratamento aos animais, como também aos humanos que sofreram. De maneira alguma é possível imaginar que ele estaria querendo denegrir certos humanos. A frodescendentes e judeus também se manifestaram, concordando com que este insulto é muita imaginação.
De todo modo, o fato de "uma semana depois da denúncia da Afropress" as imagens criticadas terem sido retiradas, só confirma que Fábio nunca teve intenção de ofender, como ele mesmo declarou publicamente.
Conclusão: pacifismo e comunicação
Mal-entendidos sempre podem acontecer. A comunicação humana é passível de falha. E realmente é possível que alguns indivíduos possam se ofender por coisas que outros sequer imaginem. Mas, se por um acaso, Fábio Paiva acabou por ofender a alguém, por que este alguém não entrou em contato com ele, e buscou resolver a coisa de uma maneira civilizada e pacífica, como sempre almejamos todos para resolver os eventuais conflitos? Ele é uma pessoa acessível, sensata e honrada, pelo que pude conversar com ele, e pelas várias mensagens que foram enviadas em seu apoio.
Mas não, ao invés disso a ong ABC sem Racismo resolveu tomar uma decisão agressiva e mover uma representação no Ministério Público contra Fábio Paiva, um cidadão que luta por uma causa nobre. Isso é muito triste.
Maurício Kanno
Jornalista ecologista e defensor dos direitos animais
[Também publicado em http://respeitoatodos.blogspot.com/, mantido por Eliane Lima e Silas Cordeiro]
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Referências:
Ataques:
http://www.afropress.com/noticias_2.asp?id=1381
http://www.afropress.com/editorial.asp
Defesas:
http://www.holocaustoanimal.org/esclarecimento.htm
http://www.veddas.org.br/cartaaomovimentonegro.htm
http://respeitoatodos.blogspot.com/