Mia Couto: Brincando de reinventar a língua na África
Li o livro "O Último Voo do Flamingo", do escritor moçambicano Mia Couto. Sim, é homem mesmo, não mulher, como o nome parece dar a entender. Li esta obra incentivado por uma parceria da Companhia das Letras com a Biblioteca Mário de Andrade. Não pude ir ao debate relacionado, mas valeu a leitura!
A maior inspiração que o livro me deu foi mesmo pela recriação linguística. Até tirei fotos de alguns trechos pra você ver.
Esta frase inicial já achei linda: "A vila se formigava em roda vivente." Olha que legal utilizar a ideia de formigueiro e transformar isso em verbo, ainda por cima agregando outras ideias conjuntamente, de roda e vivo - com verbo que dá uma ideia de contínuo.
E nem só de recriação linguística se faz este livro. Tem também um humor muito absurdo, como quando uma cabra aparece no meio de um discurso oficial de autoridade e fica com seu "Méééé!".
Aqui, outro exemplo bonito de expressão. Quando se perguntou ao protagonista sobre as línguas que ele sabe falar, ele respondeu: "Umas, de estrada. Outras, de corta-mato." Veja que modo mais rico e poético de se referir a elas, associando-as ao tipo de caminho que se deve acessar para utilizá-las.
Por último, gostaria de citar este fato narrativo curioso, em que uma mulher amaldiçoada da vila critica um italiano da ONU pelo seu modo de andar. Só lá pro finalzinho do livro a importância vital desse passo será demonstrada... Então não vou estragar a surpresa de quem for ler! ;)
E é isso! Vale a pena a leitura, por mais que a narrativa seja bem maluca e sem muito pé nem cabeça às vezes, algumas coisas não se encaixam no começo e continuam desencaixadas! Mas saquei que o objetivo desse livro foi mais poético em boa parte das vezes. Não se deve considerá-lo contando fatos concretos o tempo todo. Faz parte do clima construído pela linguagem que utiliza. Bem, aí foram os destaques que encontrei!
Abraço,
Maurício
Nenhum comentário:
Postar um comentário