Poema: Bola de Gude
Um dia fui parar em Londres
Daquelas que temos na imaginação
Cheias de névoas e edifícios clássicos
Edifícios que parecem castelos --como são mesmo, eu vi!
Meus óculos ficaram embaçados com esse fog, essa neblina
Eu tentei limpar, mas não consegui.
Limpei muitas vezes, mas meus descolados óculos
Azul e laranja
Não paravam de embaçar.
Eu me lembrei que na infância,
Antes dos meus 12 anos,
Óculos não usava não.
Assim, fui depois parar na papelaria,
Daquelas da infância,
Onde a gente compra todo tipo de papel que a professora pede
Pras atividades de escola.
Eu moleque como era (e precisa ser uma criança)
Fui correndo na frente do vendedor
Derrubei a estante de papéis
E o celofane transparente caiu sobre mim também.
Assim, equipado pras minhas artes,
Não tive dúvidas, só faltava
Um doce ar de natureza.
É assim que o doce das abelhas me atraiu.
Favos de mel: é só o que vejo agora.
Natureza não existe
Só em florestas e campinas e montanhas
Minha natureza: é ser diferente
Em tudo o que puder.
É isso o que me faz autêntico,
Até uma brincadeira fora do lugar.
Nunca fui de me divertir tanto
Com jogos do tempo do papai e do vovô
Livro TV e videogame era meu costume
Em tempo de criança.
Pipa, onde está?
Voou, voou.
Bolas, onde estão?
Rolaram, rolaram.
Mas tudo para bem longe da minha mão.
Um homem no entanto não pode ficar sem
Certos instrumentos que o compõem assim.
A bola de gude que eu joguei fora
E que aparecia só em livros de história
Voltou pra bem perto de minha mente.
Sem saber como ela voltou, ou talvez estivesse sempre lá.
Como se querendo que eu lembrasse
Do meu destino de criança sapeca
Que precisa brincar até virar adulto
E não perder graça e vontade de rir.
Natureza não existe
Só em florestas e campinas e montanhas
Minha natureza: é ser diferente
Em tudo o que puder.
É isso o que me faz autêntico,
Até uma brincadeira fora do lugar.
24/04/10 – 3h26
Um comentário:
Caro Animau,
Estou aqui com um fog na alma diante de sua desdita.
Que esta sombria bolinha de gude retorne para onde nunca deveria ter saído!
Um abraço,
Cláudio
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